Amores não são moedas. Não é "cara ou coroa", acopladas num círculo. Se for para materializar o amor sob alguma forma geométrica, escolho o cilindro.
Torpor e desamor, nessa exata sequência, são mais do que rimas. São o indicativo do fim. Para sobreviver, depois do fim melancólico, há que ter corpo fechado, mente aberta e coração tranquilo. As sequelas do desamor - de des-amar, deixar de amar - machucam quem adoeceu e quem sobreviveu. As causas do des-amar são múltiplas, mas o descuido - des-cuidar - é o principal.
É claro que não falo das relações onde falta o pão. Nessas, como no ditado, quando dois brigam provavelmente ninguém tem razão. A razão está na dureza da vida, a brutalidade do cotidiano que não permite sutilezas.
Ah! Os instantâneos do amor enquanto dura, são importantes. Sorrisos, tensões, gargalhadas, paixão, choro escondido, lugares, músicas, ternura, raiva, solidariedade. Por isso gosto da forma do cilindro: ali parecem caber os instantâneos, sem ficarem amarrotados. O cilindro dá a sensação de ser um escaninho bem largo na memória. Porque esses instantâneos a gente gosta de guardar, mesmo quando o amor acaba.
Não, não sou especialista em relações amorosas. Meu currículo é enxutíssimo. Nunca fui de muitos amores. Fui de poucos. Pouquíssimos, na verdade. Amores mesmo, aos quais se dá esse nome, só quatro. Dois acabaram graças à minha grande parcela de descuido. Os outros dois a morte me tomou.
Agora, ainda que eu queira ser sutil, gentil, quando o amor acaba há estragos. Você envelhece a alma com muita rapidez. Mais do que os estragos que o tempo faz no corpo. E nem deseja mais verdades chinesas.
Esse é para os amores perdidos.
Esse para os amores que me foram tomados.