Vi a cidade do avião, na madrugada e, de repente, parecia que eu estava em casa. Logo eu, que sempre achei que era cidadã de qualquer lugar, embora ficasse dividida entre a cidade onde nasci e essa onde vivo agora. A sensação, ao olhar da janela, era a de quem volta pra casa, a casa que nunca reconheceu como sua. A cidade estava luminosa, entre o rio e a baía. O pouso parecia o da garça que desliza sobre a água e mergulha, cada vez que precisa de alimento.
Talvez essa cidade alimente minha alma, meu ego, minha presunção. Talvez. A outra cidade alimenta minhas memórias, as da infância e das amizades sólidas construídas na juventude, e conservadas com tanto carinho, que sempre me confundi ao tentar escolher, como se as excluísse da minha vida, caso decidisse ficar por aqui.
Desta vez voltei sem angústia, sem aflições. A cidade vista da janela, parecia dizer com suas luzes: descansa, mergulha de vez nas águas da baía, lava a dor da escolha, pisa no chão, vem ser feliz.