Minhas asas não deram conta
do vôo tão ansiado.
Quando quis cruzar o mar
já havia me afogado.
Minhas pernas, embora longas,
não fizeram a travessia,
dobraram-se, e não me levaram
pra onde minha alma queria.
Minhas mãos, que eu sabia
capazes de tantos afagos,
ficaram, súbito, cheias
de abraços nunca dados.
Meus lábios já ressecaram,
minha boca está trancada,
as palavras que eu não disse,
ficam comigo guardadas.
Meus olhos não vêem o rumo,
do cais que eu vi, e não acho.
As asas não deram conta,
as pernas não aguentaram,
as mãos não abraçaram,
e beijo ficou na boca.