Eu não sei ler os sinais do tempo. Apreendo a experiência, é verdade. E aprendo alguma coisa, sempre. Mas, às vezes, este aprendizado soa inútil!
Os fatos e os sentimentos não se repetem. Qualquer experiência anterior acaba, portanto, sendo um parâmetro canhestro.
Eu não sei ler os olhos alheios, nem os meus, quando eles são fugidios.
Eu não sei medir as distâncias físicas ou virtuais: às vezes o tempo parece pequeno, às vezes, longo demais.
Eu só sei que qualquer coisa que eu pense ou sinta, basta consultar a biblioteca, e um poema ou uma música fala melhor do que eu.
" Eu pronuncio teu nome nas noites escuras,
quando vêm os astros beber na lua
e dormem nas ramagens das frondes ocultas.
E eu me sinto oco de paixão e de música.
Louco relógio que canta mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome, nesta noite escura,
e teu nome me soa mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então alguma vez?
Que culpa tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem desfolhar a lua!!"
(Garcia Lorca - Se as minhas mãos pudessem desfolhar)