" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

08
Jan 06

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Não dá pra precisar a data, embora o papel amarelado, o texto “datilografado” e o assunto, me remetam ao início dos anos 80. Sem saber os motivos da minha insônia, Rosa localizou esse papel hoje cedo e em meio a outra coincidência - temos, ao fundo, o som e a imagem dos depoimentos do Chico, numa série lançada pela TV Bandeirantes, onde ele faz o seu precioso, poético e preciso relato dos últimos 30 anos deste Brasil - lá vou eu no túnel do meu tempo!

Releio o texto no papel amarelado. Marabá, sul do Pará, a ponte sobre o rio Tocantins recém inaugurada, levava – e ainda leva - o minério da serra de Carajás para o porto de Itaqui, em São Luiz, Maranhão. Marabá, o estado do Pará, seu povo, suas esperanças, suas prioridades, continuam a ser meros acidentes no trajeto da ferrovia. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />

Vale o registro, nem que seja só pra me lembrar o quanto sou reincidente na sensação de janelas fechadas e pedaços arrancados, formando buracos na alma:

 


Às 7 horas da noite, tendo ao fundo o sol poente

o trem atravessa o rio por sobre as pernas da ponte.

Não seria quase nada esse fato corriqueiro

se isso não me lembrasse outras noites, outros tempos.

Tempo em que se pensava que o mundo já acabava na curva do Itacaiúnas,

e tudo de ruim que isso podia trazer.

A gente era mais suave, mais viscoso, ou quem sabe, mais ingênuo.

Se eu fechar os olhos, apurar o olfato, os ouvidos e a memória,

vejo tudo como um filme:

o barraco do aeroporto, as canoas do Amapá – que ainda estão por lá –

como se não fizesse diferença Marabá ter chegado ao mar!

Talvez igual mesmo, só o sol poente.

E para ser honesta é preciso enxergar sem os olhos da saudade,

mas, por mais que eu me esforce fica sempre o gosto amargo do pedaço arrancado.

O trem atravessa o rio sobre enormes pernas de ferro,

as mesmas enormes pernas que levam Marabá ao mar,

ao lambe-lambe salgado das águas do oceano.

 

publicado por Adelina Braglia às 12:31

Bem, eu sou especialista em armar bagunças! Não se queixe!Mas adoro as irmãs siamesas! Já estou em casa. Mando mail. Beijo.
Bia a 9 de Janeiro de 2006 às 13:47

Morro de rir!... Sotavento e eu já eramos manas gémeas. Agora, graças à bagunça que vc armou no seu blog, ficámos siamesas!... rsrsrsrs
Samartaime a 9 de Janeiro de 2006 às 10:59

Tudo bem. Mas vc já está em casa? Confere e manda os links. Da última vez deu para ver que vários estavam mesmo errados. Bjs
Samartaime a 9 de Janeiro de 2006 às 09:24

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