Se a vida me desse um século,
ainda assim eu me surpreenderia,
não com os dons da natureza -
os rios, as matas ou o nascer do dia
mas com a nossa atávica arrogância
de nos sentirmos donos do universo!
E se a vida me desse um século,
a cada quartil dela eu retomaria
as recordações que haviam me embalado
- músicas, risos, cenários, amigos -
e tentaria não ser tão arrogante
acreditando cultivar memórias exclusivas.
Se a vida me desse um século,
talvez eu me cansasse de tanta poesia,
talvez me entediasse tanta nostalgia,
mas acho que seria menos presunçosa,
por achar que sou tão importante
a ponto de esquecer de mandar-te um beijo!