"Nunca passou no meu pensamento ser um astronauta. Mas, tive um amigo no colégio nazaré que além de gostar daqueles uniformes horríveis, queria vestir um. O quintal da casa na generalíssimo era grande então, forneci o espaço para seus experimentos, uma espécie de Cabo Canaveral (na época tinha esse nome) caseiro, como nós o denominamos. Ajudava nos planos das naves e disso eu gostava; desenhar foguetes espaciais. A experiência ia bem até a maior ousadia, no feitio do projeto de um foguete entre cinquenta e sessenta centímetros de altura e a infeliz escolha da base de lançamento, a ponta do quaradouro, perto do tanque de lavar roupa. O foguete explodiu e se desfez, mas também deixou rastros da experiência frustrada num pedaço queimado de um lençol, além do lugar para quarar parcialmente destruído. Fomos proibidos de prosseguir com as experimentações pelo meu pai, que nos mostrou uma alternativa, a do aeromodelismo, segundo ele, menos perigosa (dizia que por sua vontade eu seria um piloto aéreo). Pararam por ali minhas aventuras de Ícaro e meu amigo? Hoje, é um conhecido advogado.
Que benefícios a viagem de Marcos Pontes trouxe para o país? Não enxergo um que seja palpável e concreto, sou ainda mais pessimista, um provável orgulho nacional será passageiro, serve como cortina de fumaça para as mazelas da pátria que nos pariu - já tivemos outras (cortinas e não pátrias) - e o que ficará como um exemplo a ser assimilado por nossas crianças? Só o tempo dirá.
Li que o astronauta brasileiro levou oito experimentos nacionais para a estação espacial. Experiências de universidades como projetos para analisar os efeitos da gravidade nas enzimas, nas proteínas, danos e reparos do DNA na germinação e no crescimento das sementes de feijão. O objetivo é desenvolver conhecimentos na realização de pesquisas em ambientes quase sem gravidade disse o ministro da ciência e tecnologia. Nosso Gagarin (lembram?) fará relatórios sobre cada uma dessas experimentações. Bom, não sei avaliar o alcance científico disso tudo, se melhorar a qualidade da feijoada e seus efeitos colaterais posteriores (afinal, a questão mexe com aspectos gravitacionais, não?), já é alguma coisa
Nessa viagem a nação gastou 10 milhões de dólares. Sabe-se que os russos queriam vinte e deixaram pela metade. Se alguém me propõe um desconto de 50% numa compra eu desconfio, o cara queria, antes da oferta, me enganar ou tem alguma coisa por trás da qualidade do produto oferecido. Números como esses confundem, principalmente após ler uma notícia sobre patrocínios aos clubes europeus de futebol e nela constatar que valor da viagem do Marcos é, também, a metade do patrocínio da Sansung ao time de do Chelsea, equipe do técnico português José Mourinho, atual líder do campeonato inglês. Vá entender..."
(Jaime Bibas)