Não foi esse o Brasil pelo qual morreram tantos, muitos se perderam e outros desapareceram. Não foi esse o Brasil que a minha geração sonhou e, mais do que sonhou, comprometeu-se nas diferentes formas de luta para construir um país melhor.
Alguns, como eu, " os reformistas", acreditavam na mudança por dentro e lá se foram engajar no movimento estudantil e, quando mais maduros, no movimento sindical. Alguns seguiram mais à frente, mas a luta armada revelou-se apenas um caminho célere para a tortura e a morte. Estou certa, porém, que nenhum de nós sonhou o fracasso e a barbárie como resultantes, em que pesasse termos tantas divergências, que nos tornávamos presas frágeis para a ditadura.
E hoje, a barbarie está aí, ao nosso redor, seja pelos meninos acocorados no canto do pátio, seja pelas meninas prostitutas nas orlas nordestinas e nos centros metropolitanos, seja pelos velhos abandonados, seja pelos homens e mulheres - adultos ou jovens - sem trabalho, ou com salários aviltantes. O multiplicar de crimes hediondos, como o estupro e a tortura de crianças, as chacinas brutais entre rivais pelo controle do tráfico, a violência das torcidas de futebol, as mortes anônimas, gratuitas, estúpidas, os cruéis indicadores da barbárie. Contra isso, a oficialidade reinante divulga os índices otimistas de crescimento da indústria paulista!
Aí, só me vem a vontade de pedir desculpas pelo patrimônio tristonho que vocês herdam, pela pátria sem brilho, pelo chão lamacento, pelo céu cor de chumbo.
Perdão, meninos. Os meus e os outros.