Há alguma coisa nesse rio que me fascina,
há uma luminosidade nesse céu que me incomoda.
Entre o fascínio e o incomodo,
vivi três quartos da minha vida.
O quarto que assim não vivi
- entre o fascínio e o incomodo -
virou lembrança remota de uma infância entre a terra e o céu,
colorida por potes de doces,
uns de abóbora, outros de manga ou de mamão verde,
ou por pães caseiros cheirosos, nas tardes de quinta-feira.
Pra que serve dizer isso tudo,
eu também não sei.
Mas parece-me esquisito ter vivido
três quartos da minha vida entre o fascínio e o incomodo.
Mais esquisito é eu imaginar que possa
reparti-la em novos pedaços,
e ter ainda mais um quinto
pra decidir o que quero.