" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

24
Abr 06

Eu fumo muito e bebo pouco.

Não consigo ter a convicção da existência de Deus,

embora, às vezes, reze para o anjo da guarda para que proteja meus filhos

e quando faço isto reconheço em mim uma incongruência.

Mas, como tenho tantas, esta nem sequer me incomoda muito.

Convivo com muitas pessoas que parecem personagens saídas da minha imaginação

se acaso eu tivesse uma imaginação tão criativa!

Mas, reconheço que se convivo com elas, é porque as amo, do jeito que são,

embora perceba em mim, às vezes, muita vontade de que elas mudem.

Para melhor, segundo o meu desejo de que elas sejam

como eu gostaria que fossem!.

Faço análise e tomo antidepressivo.

Nem por isso me considero maluca, embora, às vezes,

me tema, por imaginar que a vida é trailer  e que o filme ainda está por vir.

Amo apaixonadamente e odeio com alguma moderação,

embora, às vezes, tenha que conter a raiva com as mãos.

Tentei ser esquerdista e esforcei-me dedicadamente para cumprir meu objetivo.

O melhor que consegui foi ser “reformista”,

daqueles que acreditam poder mudar as estruturas “por dentro”,

embora, às vezes, olhando meu país em 2006,

tenha algumas recaídas e me pegue pensando

que a guerrilha poderia ter sido uma ótima alternativa!

Com certeza, alguns personagens que usaram a história para enfeitar seu perfil,

poderiam ter sido bons para roçar juquira nos canaviais!

Hoje me contento em assumir com tranqüilidade

que o que me mobilizou, na verdade,

não foi a minha força ideológica nunca cumprida,

mas a compaixão pelo sofrimento do outro

e que não me angustio mais em definir minha “vocação”.

Acredito, sim, na política e nos políticos decentes

e sou capaz de nomear alguns compromissados com o seu país.

 Procuro perceber os indicativos de uma mudança na América Latina,

e os comemoro, mesmo que venham no rebojo das águas

o falso “nacionalista” ou o populista “bem intencionado”.

Mas, não me convidem a votar em ninguém esse ano.

Quero anular meu voto, como direito de cidadania.

Repito que amo a música e a minha neta Beatriz.

Ela tem seu nome ligado a uma linda canção

e a uma maravilhosa amiga.

Confesso meu cansaço, embora, às vezes, eu amanheça com o vigor da infância

e com a disposição de sonhar, como eu a tinha na juventude.

Mas hoje não. Hoje amanheci com a intensidade e o peso dos meus 56 anos.

publicado por Adelina Braglia às 11:45

Caramba, querida Maíra! Acho que desde o início do blog, você é a minha melhor surpresa! Beijo grandão!
Bia a 4 de Maio de 2006 às 16:23

Oi tia!!! Adorei o texto, ele até mata a saudade de tanto que te reflete. Venho passear por aqui de agora em diante. Beijos bem grandes.
Mara a 4 de Maio de 2006 às 12:40

" As vezes me dá um branco e desapareço. De repente, sinto uma falta deste BLOG e retorno, meio desanimado. Aí me deparo com este texto autobiográfico e envolvente. Ele me extasia pela sinceridade e pela similaridade -somente vista por outros- com a vida de muitos autores/compositores/artistas.Profissões que o Brasil varonil da ditadura tanto reprimiu. Não deplore a idade, cara amiga, ela lhe trouxe a vivencia e a experiencia para você entender seus próprios pensamentos e conflitos.
Considere-se uma artista em recesso. Não por desejo próprio, mas pelas contradições da própria vida de artista.
Para sanear sua angústia reprimida, lembre que ter amigos - do peito - é uma forma de arte. Não a tradicional, mas aquela que jamais permitirá a chegada da solidão.Nunca!"
Paulo Soares a 28 de Abril de 2006 às 20:52

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