Ontem, a lua pálida e ovalada de Irituia anunciava a lua cheia e redonda de hoje na noite de Belém. A minha pálida tristeza de ontem, não anunciava nada para hoje.
Uma vez, sofisticando meu raciocínio ao extremo, disse à analista: "Eu não sou infeliz. Eu sou não-feliz e isso para mim é diferente." Ser infeliz pressupõe motivos, causas, dores. Eu as tenho, mas não acho que elas me dão o direito de ser infeliz, essa coisa triste. Isso sim, é triste.
"Ah! essa melancolia!", diria minha madrinha. E eu acho que a minha tristeza é mais parecida com isso. A melancolia, às vezes doce, às vezes ácida, mas sempre presente, como uma coisa a me acusar, com voz mansa, dessa culpa atávica de ter nascido e de ter me arvorado, só por isso, a ser arrogante na escolha de caminhos para os outros, especialmente os filhos.
Olho-os hoje, crescidos, tropeçando nas suas escolhas e caminhos, e eu os amo intensamente. Percebo o quanto reajo para permitir que se desvencilhem de mim, quando me vejo sentada sobre eles, tal qual uma galinha choca!
E quando pedem para respirar, quero conduzir sua respiração. E quando choram, quero tirar sua dor com as mãos. E percebo que nada disso é amor. É presunção, é controle, é poder. Que eu chamo de amor materno, de afeto, de carinho, mas é um exercício feroz de poder.
Caramba, o pior é que tenho uma velha tese: mães são um peso grande demais para uma única vida. Deveríamos nascer como as mangas, amadurecer nas árvores e sair caminhando, sem traumas.
Dia das mães, essa coisa estranha, que eu tive e perdi, que eu sou e não me contenho.
Parabéns para nós! E que os deuses protejam de nós os nossos filhos. E, em todos estes dias que Mercedes diz que " todo cambia..." hoje é o dia em que o fundo musical me parece mais que perfeito!