E o homem justo seguiu o enviado de Deus,
alto e brilhante, pelas negras montanhas.
Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:
“Ainda não é tarde demais, ainda dá tempo de olhar
as rubras torres de tua Sodoma natal,
a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,
as janelas vazias da casa elevada
onde deste filhos ao homem bem-amado”.
Ela olhou e – paralisada pela dor mortal -,
seus olhos nada mais puderam ver.
E converteu-se o corpo em transparente sal
e os ágeis pés no chão se enraizaram.
Quem há de chorar por essa mulher?
Não é insignificante demais para que a lamentem?
E, no entanto, meu coração nunca esquecera
quem deu a própria vida por um único olhar.
(Anna Akhmátova)
Obrigada, Ana Diniz.