Safira soube da morte do afilhado quando chegou no portão de casa. A vizinha avisou que Mauro tinha saído dali fazia um tiquinho de tempo, depois de trazer a notícia da morte do irmão Miguel.
Safira não ouviu mais a vizinha, ainda que ela continuasse a falar. Deixou as sacolas na porta, murmurou para a vizinha que as guardasse para ela e foi caminhando para a casa dos compadres.
No caminho sua cabeça parecia não ter rumo. Lembrou que de tão cansada não havia passado na Professora Helena. Depois lembrou do último encontro com Miguel, na porta da Igreja do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Lembrou-se de ter lhe dado um “pito” porque ele passava pela porta da igreja no domingo, mas era em direção ao campo de futebol! E lembrou-se do sorriso dele respondendo “Que nada, madrinha. Jesus gosta é muito de futebol!”
Safira desacelerou o passo porque não queria chegar lá. Da esquina avistava a casa cheia de gente na porta. Um carro de polícia, seu Martinho do armazém, seu Jorge da oficina. Esses ela reconheceu de longe. Safira perdeu a coragem. Voltou nos pés.
Não sabia muito bem aonde ir. Lembrou de novo da Professora Helena e caminhou para lá. Ainda havia luz na janela. Safira automaticamente olhou o relógio e viu o quanto ainda era cedo naquela noite que parecia mais escura do que todas as de que se lembrava.
A sobrinha de Helena abriu a porta e foi falando e falando. Safira só ouviu o nome de Miguel. Fez um sinal com a mão de que não queria saber dessa história e entrou no quarto da Professora Helena. Ela já dormia. Safira passou a mão nos seus cabelos, sentou ao lado dela na cama e chorou. Era um choro doce, de quem desaguava ali a vida inteira.