Na ponte do Barreiro, um bairro de Belém, há uma feira. É conhecida como Robauto. É público que ali, na maioria, os produtos vendidos são fruto de roubo. Estão expostos no meio fio, mais ou menos organizados por itens. E a variedade é grande: ventiladores, bicicletas ou peças dela, botijões de gás, aparelhos celulares, ferramentas, ferragens, e o que a imaginação e a destreza puder ali colocar à disposição do distinto público.
Passando pela manhã ali, da janela do ônibus, vi a polícia levar um jovem algemado. Parecia ter roubado algo ou alguém da feira do roubo explícito. Será que para ele vai valer a máxima “quem rouba de ladrão tem cem anos de perdão”?
Na minha atual fase – entre a euforia da esperança mantida viva a ferro e a fórceps e o desalento profundo na nossa possibilidade de sermos um dia uma nação – meu raciocínio completo foi simples; não deveria a polícia prender todos os que ali estavam? Porque só um entre tantos transgressores? Porque ele roubou no conceito policial de roubo? Meteu a mão no bolso de alguém? Tentou sair correndo com um pneu de bicicleta debaixo do braço? Mas, que diferença há? Ali rouba quem vende e coonesta o roubo quem compra. Tudo sob o céu do Equador e o beneplácito de TODAS as autoridades.
Diria, novamente Francelino – e desta vez, cheio de razão – “que país é este”? E eu torço, sinceramente, que o ladrão azarado, muito jovem, como as centenas que entopem as cadeias públicas de Belém do Grão Pará, tenha um sursis da vida.
E repito a canção posta aqui há algum tempo, pela atualidade. Permanente.