Há anos não passo roupas. Muitos anos. Meu filho mais velho, com 30, sempre passou suas camisetas na adolescência.
Essa “falha” nas prendas domésticas – ah, eu as tenho, sem nenhuma vergonha! – deve-se a um trauma de infância. Minha poderosa mãe mandava-nos passar a roupa e conferia o serviço. Se encontrasse uma ruga, por pequena que fosse, na roupa passada, amarrotava-a e nos mandava passar novamente. Assim, quando adquiri autonomia de vôo na vida, nunca mais passei roupas.
É comum encontrar-me por aí, com uma blusa mal passada ou um vestido que não vê ferro há algum tempo. Se a Santa Zezé não passou, nem eu.
Hoje descobri que vou abrir mais uma ficha no arquivo “não faço mais”. Detesto descascar batatas cozidas. E acho que também se deve à mãe esse detestar. Ela fazia gnocci – ou nhoque – e nesses domingos descascávamos bacias de batatas cozidas. E não se podia deixar nenhum olhinho preto na superfície da dita cuja. E aquela película fina em que se transforma a casca da batata quando cozida, entranhava-se nas unhas!
Decidi agora que nunca mais descasco batatas cozidas e que se danem as lições de conservação da propriedade dos alimentos! A partir de hoje, cozinho-as descascadas e consumiremos apenas puro amido!
Tudo parece tão simples enquanto escrevo que chego a pensar que bastariam duas ou três decisões deste tipo para que algumas coisas também fossem eliminadas do cotidiano: não ligo mais a TV. Ou de hoje em diante não voto mais. Ou, como toda propriedade é um roubo – apud Proudhom – não pago mais meu aluguel...rsrsrsrs.....