"Combate ao racismo a curto prazo exige investimento de R$ 67,2 bilhões
Para acabar com a discriminação racial estrutural, o Brasil precisa investir R$ 67,2 bilhões. O dado é um dos vários destacados pelo Instituto Ethos no manual "O Compromisso das empresas com a promoção da igualdade racial". A publicação lançada hoje em São Paulo marca a entrada da organização no debate específico do combate à discriminação por raça.
O cálculo foi realizado pelo economista e pesquisador da UnB (Universidade de Brasília) Mário Theodoro, e considera o custo para igualar os níveis de acesso em educação, habitação e saneamento das populações negra e branca.
De acordo com o levantamento, concluído em novembro, a questão da habitação demandaria o maior investimento, algo em torno de R$ 37,4 bilhões. Isso apenas para igualar o déficit de moradias, que entre os negros é de 4,2 milhões de unidades e para os brancos, 2,3 milhões.
Em educação, seriam precisos outro R$ 22,2 bilhões para nivelar índices como as taxas de analfabetismo entre adultos e o acesso à universidade. Medidas relacionadas ao saneamento demandariam mais R$ 7,6 bilhões.
O economista sustenta que este "custo do racismo" é um dado em aberto e seu valor pode aumentar com a inclusão no cálculo de outros elementos, como acesso à saúde, segurança pública ou emprego e renda.
Aponta, porém, que estes R$ 67,2 bilhões são o gasto necessário para a equiparação entre brancos e negros a curto prazo.
Segundo Theodoro, "é um volume com o qual o Estado brasileiro tem toda condição de arcar". Ele compara o valor a montante acumulado pela União como superávit primário para pagamento da dívida. De acordo com o economista, o investimento proposto equivale a 75% do superávit registrado entre janeiro e setembro de 2005.
A editora da publicação, Nilza Iraci, lembra que o dado é polêmico. "Não pelo valor, mas porque causa perplexidade quantificar o racismo, demonstrá-lo através de dados oficiais", disse a jornalista, ativista da ONG Geledés - Instituto da Mulher Negra.
Para o professor de Finanças da Universidade São Marcos e presidente do Instituto Brasileiro da Diversidade, Hélio Santos, falta incluir nesta conta o impacto do preconceito sobre a possibilidade de crescimento econômico e desenvolvimento do país.
Santos afirma que falta um modelo econométrico que calcule "o custo de oportunidade que recai sobre o País por perder tantos talentos".
A inclusão da população negra no mercado de trabalho é, no fim das contas, o resultado esperado da campanha que o Ethos assume com o lançamento do manual.
A publicação tenta sensibilizar o empresariado com dados como os apontados por Theodoro e outros pesquisadores e ativistas do movimento negro. Aponta, ainda, propostas de ações específicas a serem adotadas pelas empresas."
(Publicado em: 31/05/2006 - 18:30 / Folha Online Cidade: São Paulo - SP - País: Brasil /Autor: CRISTINA CHARÃO)
Fonte: http://www.gestaosindical.com.br
O Instituto Ethos é uma respeitável organização, e o estudo que patrocinou merece crádito, embora eu tenha pavor de quantificações de racismo ou do "custo" da dita igualdade. Mas é importante sabermos, quando o pesquisador o afirma, que o estado brasileiro tem como arcar com este custo, citando a capacidade do estado de acumular para o pagamento da dívida.
Porém, fica difícil acreditar que há seriedade na condução de uma política de combate à desigualdade racial quando se observa no desempenho orçamentário de 2005 a pífia disponibilização de recursos para políticas e ações afirmativas de igualdade racial num Brasil que se reconhece quase pela metade como preto ou pardo. (ver: www.contasabertas.uol.com.br)
A mesma coisa eu avalio se olho as fantásticas propagandas de programas de combate à pobreza. É verdade que o governo federal consumiu este ano recursos expressivos para garantir o Programa Bolsa Família, mas o fez sem ampliar os gastos com investimentos:
"...o Bolsa Família consumiu, de janeiro a abril deste ano, no Nordeste, 54,3% a mais do que o total de investimentos federais realizados na região até a semana passada. Enquanto que, em quatro meses, R$ 1,1 bilhão foi gasto para atender cerca de 4,5 milhões de famílias nordestinas, apenas R$ 735,8 milhões em recursos federais, foram investidos (até 24/05), nos nove estados da região." ( http://contasabertas.uol.com.br/noticias/detalhes_noticias.asp?auto=1407)
Eu achava antigamente - êta palavrinha pesada, especialmente quando ela indica que falamos do século passado!!! - que a música que Luiz Gonzaga cantava -"...mas doutor uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão..." - era preconceituosa, e talvez o fosse, se considerarmos que a elite brasileira sempre qualificou de "financiamento" o apoio aos ricos e de esmola os benefícios para os pobres.
Hoje entendo que o "viciar o cidadão" não propõe o egoísmo, nem a ausência de solidariedade. O que se diz ali, ou o que eu hoje quero "ler" é que isto vicia a alma, abate-a em pleno vôo, pois não se garante, enquanto projeto de nação, condições objetivas de se fortalecer o cidadão. Entre a Bolsa Família e o posto de trabalho, mantenha-se a primeira como medida de curto prazo mas que se dê indicativos claros de que caminharemos para a garantia de postos de trabalho.
Dirão meus amigos petistas que "enquanto isto, o cidadão tem que comer!!!" e como o dizem com empáfia, meu deus!
Concordo. Plenamente. Mas como há de ser a mudança "estrutural" se alimento mais o Programa do que as oportunidades de trabalho e renda, lá isso eles não me respondem.
Tá. Eu estou "radicalizando".