Quando você crescer e a vó talvez não esteja junto pra explicar, perdoe-nos por acreditar durante muito tempo que Pedro Álvares Cabral havia descoberto o Brasil por acaso. E por termos desfrutado durante alguns anos a ilusão de um país que despertava, e assim podíamos sonhar com “... o barquinho a navegar no macio azul do mar...” e amar os Beatles e os Rolling Stones.
Depois, nada era paz e o amor se fazia no escuro, encostados nos muros, temendo a prisão. Mas aí, tanta coisa havia acontecido enquanto o barquinho navegava que foram muitos, muitos anos de escuridão. E hoje ainda temos dificuldades na claridade, pois sombras turvam a visão.
Mas não nos culpe por Wlado Herzog nem pelo exílio que feriu de morte a sanidade de Geraldo Vandré. Isso é culpa dos generais, estes que hoje querem a impunidade e que a vó quer que sejam punidos, um a um. Que os que já morreram sejam desonrados publicamente e que os que vivem sejam presos e exemplarmente punidos pela prisão ilegal, pela tortura e pelo assassinato de jovens como a vó também já foi.
E que na sua juventude, a fraternidade tenha se sobreposto à barbárie. É o que a vó lhe deseja, do mais fundo do coração e com o mais profundo amor.
E como o Vitor Martins e o Ivan Lins já tinham antecipado estas desculpas, deixo a canção pra você: