" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

25
Jul 10

 

Serão os lúcidos tão arrogantes que num determinado tempo da vida não encontram nada? Ou são apenas doentes, ainda que lúcidos?

 

Vinícius de Moraes e Arnaldo Antunes e Alice Ruiz, cada um no seu tempo e na sua forma descrevem o sentimento pesado ao qual chamamos simplesmente tédio. Que não tem tamanho, nem forma definida,  nem peso. É tédio. Sem culpas, sem rancores.

 

Checando:

 

Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda
Quero fazer uma poesia.
Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
E me trazer muito devagarinho.
Não corram, não falem, fechem todas as portas a chave
Quero fazer uma poesia.

Se me telefonarem, só estou para Maria
Se for o Ministro, só recebo amanhã
Se for um trote, me chama depressa
Tenho um tédio enorme da vida.

Diz a Amélia para procurar a "Patética" no rádio
Se houver um grande desastre vem logo contar
Se o aneurisma de dona Ângela arrebentar, me avisa
Tenho um tédio enorme da vida.

Liga para vovó Neném, pede a ela uma idéia bem inocente
Quero fazer uma grande poesia.
Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde
Se eu dormir, pelo amor de Deus, me acordem
Não quero perder nada na vida.

Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
Tenho um tédio enorme da vida.

Minha mãe estou com vontade de chorar
Estou com taquicardia, me dá um remédio
Não, antes me deixa morrer, quero morrer, a vida
Já não me diz mais nada
Tenho horror da vida, quero fazer a maior poesia do mundo
Quero morrer imediatamente.

Fala com o Presidente para fecharem todos os cinemas
Não agüento mais ser censor.
Ah, pensa uma coisa, minha mãe, para distrair teu filho
Teu falso, teu miserável, teu sórdido filho
Que estala em força, sacrifício, violência, devotamento
Que podia britar pedra alegremente
Ser negociante cantando
Fazer advocacia com o sorriso exato
Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
Sabe ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia.

 

 (Vinícius de Moraes – O falso mendigo)

 

Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...

Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

Socorro!
Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro! Eu já não sinto nada...

Socorro!
Não estou sentindo nada [nada]
Nem medo, nem calor, nem fogo
Nem vontade de chorar
Nem de rir...

Socorro!
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Eu Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate
Nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

 

(Arnaldo Antunes e Alice Ruiz – Socorro)

 

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 10:27

12
Jul 10
Os irmãos: Lula, Cleide, Oswaldo e Nena. Falta a Rita, entocada naquele Mato Grosso!

 

 

 

Há um canto de envelhecer. Canto, lugar, espaço. Não uma canção.

 

Há prateleiras da memória  que precisam de um chão especial para serem assentadas. A memória nem sempre é só o que se carrega  nas lembranças. Parte dela se compõe de alguns livros, alguns discos, fotografias. Uma ou duas bonecas criolas. E um computador, moderno diário das lembranças cronologicamente anotadas.

 

No canto de envelhecer tem que caber os irmãos e os amigos. Um quartinho, portanto, é muita pobreza! É preciso espaço, onde algumas cadeiras confortáveis  abrigarão conversas dias afora.

 

Se for possível, um pequeno jardim, com rosas-menina e margaridas. Uma pequena mesa para o café e algumas guloseimas. E cinzeiros.  Para a Bit, café só até quatro da tarde, eu sei. Guloseimas, sem hora certa!

 

Uma manhã de abril, uma tarde de maio, noites lindas de junho. O vento de agosto, a florada de setembro. Pulo o calor de dezembro.  E lá vem janeiro, cidade menor, quase do tamanho certo. Um passeio nas livrarias, uma olhada na programação dos cinemas. Um cantor novo, um compositor fora da mídia.

 

No inverno, a pizza pedida pelo telefone. O vinho que já estava guardado, esperando ocasião.

 

Um canto com nome: São Paulo. Falta pouco.

 

publicado por Adelina Braglia às 13:37

11
Jul 10

 

 

publicado por Adelina Braglia às 19:42

06
Jul 10

 

 

Você tem certeza que não ter alma pequena basta para tudo valer a pena?

 

Você acha que um pássaro prisioneiro na mão vale mais do que dois, livres, voando?

 

Você acredita, sem pestanejar, que quem com ferro fere, um dia será ferido?

 

Caramba!

 

Manda um pouco desse otimismo. Ou dessa estupidez!

 

 

 

 
publicado por Adelina Braglia às 18:27

04
Jul 10
(Argentina, Página 12)
publicado por Adelina Braglia às 19:10

 

Bom dia, Juca querido,

 

e era assim que começávamos nossa troca de idéias no  Quinta Emenda.

 

Continuo indo lá, vez em quando, pra ler o que você escreveu. Releio, dou muita risada, confiro seus acertos. Dou umas pancadas na saudade.

 

Hoje vi que dia 4 de julho passado, você iniciou sua despedida recomendando Eric Clapton.

 

Estamos tentando, camarada. Ainda tentamos “change the world”. Mas tá bem mais sem graça sem você.

 

Beijão.

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 07:44

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