Aqui vai o que posso chamar de meu.
Cinco jarros grandes de folhagens.
Quatro samambaias. Três orquídeas.
Um pé de íris amarela. Duas folhagens pequenas das quais não sei o nome. Uma linda jibóia plantada junto com a íris e que agora sobe, elegante, pelo tipiti pregado à parede.
Um computador, CDs, livros. Minhas roupas. Sandálias. Dois perfumes. Três bolsas. E uma caixa de sabonetes maravilhosos.
Quatro porta-retratos, oito ou nove álbuns de fotografias (embora nestes estejam fotos que apropriei dos irmãos...rsrsrs...).
Minhas bonecas negras de Camiranga. Minha banda de blues. Dois porquinhos cheios de moedas para dar pra Bia no seu aniversário (junto com o meu!).
Catarina e Juliana, as gatas, não são minhas, embora nestes dez anos de convívio com elas, eu tenha muitas vezes tido esta ilusão. Mas estão comigo. Meu aquário dei de presente há poucos dias.
As pessoas que amo, nenhuma é “minha” em que pese o vício recorrente de dizer – e pensar - “meus filhos”, “meu irmão”, “minhas irmãs”, “minha companheira”, “minha neta”, “minha nora”, “meus amigos”. Mas sei que o amor que me têm é minha propriedade imaterial indissolúvel. E essas memórias de afeto são minhas.
Enquanto escrevo, penso que alguns têm razão: jamais consegui ser virtuosa na aquisição de bens. Não, não considero isto uma qualidade. É apenas uma constatação. Ou melhor, talvez seja uma tímida justificativa para os que esperavam que eu tivesse essa capacidade. Ou esse desejo.
Desde muito jovem tinha essa certeza: jamais acumularia nada. Nunca sonhei em ter a casa, o carro. Muitas vezes me enraiveci porque não podia comprar o livro ou o disco. É, eu sou do tempo do disco. Outras vezes, mais “humana.” também senti raiva por não poder comprar aquela bolsa linda, marrom.
Lamentei muitas vezes não ter viajado mais. Mas vou fazer algumas viagens.
Os sonhos e as esperanças também não eram meus. Eram coletivos e dependiam de tantas circunstâncias que pouquíssimos se realizaram. Saber isto me traz o alívio da culpa de ser responsável pelo mal estar da humanidade. Touché!.
Com tudo isto, ainda às vezes um sentimento de inquietude circula por dentro de mim, driblando a sensação de que eu me sinto bem. Pra ele, o impertinente, refaço o verso de Aldir Blanc: 61 anos, “ perdôo a todos, não peço desculpas, foi isso que eu quis viver.”