Em 28 de março de 1941, Virgínia Woolf encheu de pedras os bolsos do seu casaco e mergulhou no rio Ouse. Punha fim à angustiante convivência consigo, reconhecendo que nem o amor incondicional era capaz de mante-la atada à vida.
Quando eu tinha dezoito anos, descobri que Virgínia chamava-se Adeline Virginia Stephen Woolf. Adelina, como minha avó paterna e eu. O primeiro livro dela que li foi Orlando. Ao invés de interessar-me pelo tema que gerara o livro, lembro que fiquei fascinada pela Turquia! À época, não percebia o amor dela por Vita-Sackville West, que só fui entender anos depois, quando li “Retratos de um casamento”, livro de Nigel Nicholson, filho de Vita. Li Orlando apenas como uma maravilhosa fábula que discutia o papel restrito da mulher em Londres, no período em que foi escrito. Oh! Céus!
Virgínia Woolf foi minha primeira percepção de que há pessoas em quem a camisa de força da vida não cabe, e, às vezes, é insuportável. E que a única coisa que nos mantém vivos é a nossa capacidade de resistir à angústia, tenha ela a forma que tiver. E a perseverança de viver, enquanto queremos. E, se é isso que queremos.