" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

16
Fev 10

 

Há tratados, teses, livros e opiniões aos montes para explicar o fenômeno do Carnaval brasileiro. Eu prefiro apenas uma: nossa alma racista e colonial, misturada ao machismo a ela inerente. Aquela que nos faz ter reis em todas as modalidades: Rei Momo, rei do futebol, do tênis, da axé-music! E destinar aos negros – e com mais ferocidade às mulheres negras - os postos secundários da sociedade, à exceção dos dias do “reinado de Momo”.
 
Por três dias, ganhamos as ruas, fantasiados do que queremos ou podemos. As mulheres, especialmente, desfilam sua soberania quando as porta-bandeiras iluminam a avenida, não importando que após a quarta-feira voltem para a senzala eterna. Interessante é que o homem é o Mestre Sala e a mulher é a porta-bandeira, quase um acessório.
 
Essa idealização do império ficou patente ontem pela manhã, quando atravessava a rua e vi um carro alegórico retornando após a folia. Um velho negro com ar abatido tentava dar direção à carroceria, enquanto quatro negros jovens empurravam o que restou da magia daquela alegoria.
 
O orgulho da raça. Cínico. Hipócrita.Concedemos, com a nossa magnanimidade branca, três dias de euforia para afogar a mágoa, a dor e a raiva do racismo e do preconceito diários.
 
O desfile das escolas de samba do Rio – ainda que meu amor pela Mangueira aparentemente contradiga este discurso – é o exemplo mais feroz de tudo isto. Abriu-se na senzala o espaço para que as branquelas e branquelos exibam seu requebrado. Pretende-se assim mostrar que a igualdade é uma característica brasileira.
 
Tento suavizar este mal estar pensando que ainda assim, são negras e negros que fazem a festa. E divertem-se com a semgracisse – palavra nova! – dos colonizadores. Assim fica melhor.
publicado por Adelina Braglia às 10:50

Aproveitando o Carnaval, deixo aqui um agradecimento ao cordão dos puxa-sacos.

 

Censurei 18 comentários este mês. Muito mais do que a média mensal que eu tinha antes.

 

Continuem daí, que eu os contabilizo daqui.

 

Sem abraços.

 

 

publicado por Adelina Braglia às 09:24

 

 

Foto: Wilton Junior - Agencia Estado

publicado por Adelina Braglia às 09:18

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