Nascido em julho de 2005, o Travessia jamais teve moderação de comentários.
A partir de agora terá. Graças à intervenção de três anônimos imbecis que em meia hora, motivados, quem sabe, pelo post anterior e pela garantia dos seus salários vieram ocupar um espaço que não merecem. Não vou debater com puxa sacos.
O Blog é de opinião. A minha, óbvio. As opiniões contrárias sempre foram aceitas sem restrições, em cerca de 2 mil comentários nestes quase 5 anos. Mas, puxa saquismo barato não tem espaço aqui.
O registro de IP sempre existiu. E é avisado quando se posta um comentário. A diferença é que a partir de hoje, vou prestar atenção neles.
Abração para quem merece.
Dilma Roussef com a arrogância que lhe é peculiar – aquela arrogância dos que acreditam que são o caminho, a verdade e a luz (ops!) - vai agora ficar p... da vida. Mas, reconheçamos que pelo menos numa coisa ela tinha razão: não foi blecaute, foi mesmo um apagão. Apagão de competência. Esse é o trecho da notícia de hoje, no Valor Econômico:
“O resultado da fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nas linhas de transmissão e subestações operadas por Furnas, na região onde teve origem o apagão que deixou 18 Estados sem luz em novembro do ano passado, aponta uma série de problemas de manutenção dos equipamentos daquelas instalações. "E não estamos falando de meses de falta de manutenção, mas de anos", diz uma fonte ligada à Aneel. Na sexta-feira, o relatório foi encaminhado à estatal, questionando a empresa pela negligência.”
Mais grave ainda é o apagão educacional. Avaliação do IPEA, divulgada na semana passada na imprensa, mostra a falácia do investimento em educação. Enquanto formos 52 milhões de analfabetos e analfabetos funcionais, a mentira parecerá verdade, pela imposição e pela empáfia. Mas, não se sustenta.
No Haiti devastado perdemos Zilda Arns, uma brasileira cuja ausência nos deixa mais pobres. Mas, lá já havíamos perdido a humanidade, apesar dos 15 milhões de ajuda "humanitária" do governo brasileiro.
Um grupo de pesquisadores da UNICAMP em treinamento em pesquisa de campo antropológica escolheu o Haiti, segundo justificam, por ser o primeiro país a proclamar a independência em meio um verdadeiro processo revolucionário e que chama a atenção por sua excepcionalidade. Estão lá desde novembro passado.
Segundo eles, o "... país foi objeto de mais uma ocupação internacional, ora comandada por tropas que levam a bandeira brasileira. Não foi a primeira ocupação, e a presença das tropas brasileiras deve ser percebida da perspectiva haitiana, como parte de uma longa história marcada pelo assédio e pelo embargo. Nosso compromisso com a compreensão do Haiti implica num treinamento específico em pesquisa de campo em regiões de conflito e pós-conflito."
Eles relatam em seu blog os dias do Haiti. Antes e depois do terremoto. Este trecho é de ontem:
A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.
O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente esta ousadia.
O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?
A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.
Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?
Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.
Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.
A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.
A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.
Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.
Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.
Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.
Otávio Calegari Jorge
http://lacitadelle.wordpress.com/
PS: Uma pergunta minha, não deles: será que alguém pode solicitar que o coronel Bernardes explicite melhor sua afirmação? E que tal incluir no PNDH 3 o acompanhamento das nossas tarefas "humanitárias" no Haiti?