Acabo de assistir Grey Gardens, na HBO. Uma adaptação para a tevê do documentário dos irmãos Maysles, feito em de 1975. As personagens, Edith Bouvier Beale, mãe e filha com o mesmo nome, vivem juntas a decadência cotidiana, silenciosa, numa imensa casa de campo, presas a si mesmas e ao passado. Rodeadas por gatos, fotos antigas e uma eletrola, rememoram os dias de glória, de glamour, contam os centavos, dividem com os gatos sua comida e conservam no olhar o brilho dos sonhos que não realizaram, especialmente Edith, a filha, enquanto a casa rui à sua volta.
O parentesco delas com Jacqueline Bouvier Kennedy (tia e prima), não significa grande coisa, a não ser pelo escândalo nos jornais, quando o departamento de vigilância sanitária do condado de Nova Iorque, onde elas moravam, interdita ao casarão por absoluta falta de condições de habitabilidade. Uma interferência de Jacqueline serve para recuperar a casa e dar-lhes condições de moradia.
O que dá grandeza ao filme, cujo enredo trivial não chamaria muita atenção, é a degradação do mundo em que as Beale viveram e cultivam nas suas memórias e encenações para o documentário, e a realidade da casa ruindo, como o passado que não volta mais.
Embora no filme só se veja os gatos, na ratoeira do tempo é que está ancorada a emoção.