" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

15
Jul 09

 

 

 

Ingênuos e ameaçadores, presunçosos e talentosos, arrogantes e infantis, os depressivos estão sempre em boa companhia. Beethoven, Anthony Hopkins, Michelangelo, Martin Luther King, Francis Ford Coppola, Peter Gabriel ( remember The Police?), Marlon Brando, Harrison Ford, Ozzy Osbourne, James Taylor, Larry Flynt, Stephen Fry (é, aquele especialíssimo ator que inspirou Zeca Baleiro a compor a canção com seu nome), Tim Burton, James Taylor (meu predileto entre os “contemporâneos”)  - e para quem gosta de moda tem até Yves Saint-Laurent! – são alguns coleguinhas da arte de ser infeliz, mesmo quando se pensa que tudo o que se quer da vida é ser feliz.

 
 
Somos assim. Uma diversidade apaixonante! E os poetas? Ah, entre estes devemos ser maioria. Só dois, para uma “palhinha” de como é na poesia que os depressivos melhor se exibem:
 
 

Esse é o Quase, de Mário de Sá Carneiro:

 
 

Um pouco mais de sol – eu era brasa,
Um pouco mais de azul – eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho – ó dor! – quase vivido…

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim – quase a expansão…
Mas na minh’alma tudo se derrama…
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo … e tudo errou…
— Ai a dor de ser — quase, dor sem fim…
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou…

Momentos de alma que,desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…

Se me vagueio, encontro só indícios…
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios…

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí…
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi…

Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa…
Se ao menos eu permanecesse aquém…

 
 

E esse é  Um cidadão comum, do Torquato Neto:

 

Sempre subindo a ladeira do nada,
Topar em pedras que nada revelam.
Levar às costas o fardo do ser
E ter certeza que não vai ser pago.

Sentir prazeres, dores, sentir medo,
Nada entender, querer saber tudo.
Cantar com voz bonita prá cachorro, 
Não ver "PERIGO" e afundar no caos.

Fumar, beber, amar, dormir sem sono,
Observar as horas impiedosas
Que passam carregando um bom pedaço
da vida, sem dar satisfações.

Amar o amargo e sonhar com doçuras
Saber que retornar não é possível
Sentir que um dia vai sentir saudades
Da ladeira, do fardo, das pedradas.

Por fim, de um só salto,
Transpor de vez o paredão.

 


Viu? Tenho pensado que os depressivos talvez sejam os “normais” da sociedade. Os que detem o prazer da loucura e são quase sãos, desde que tomem seus remedinhos direito. Matam-se de angústia pelo coletivo e pelo individual, mas são incapazes de fazer mal a uma ou mais moscas. E às pessoas também. São, no geral, generosos, mas escondem com isto uma egocentríssima visão do mundo.

 

É assim que somos.

 

Um senso de justiça que jamais se cumpre, um desejo de felicidade que nada tem a ver com o real, uma ânsia de encontrar iguais. E adoramos companhia desde que preservemos a solidão.

 
 

PS: Ok, Marga. OK, Ana. Vou sim. Vou tomar o meu Pondera...     rsrsrs...

 
 

 

 

 

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 23:51

 

Minha manhã começava abrindo o micro que entrava direto em duas páginas: o conservador Estadão e o Quinta Emenda.
 
Parecia com isso que eu juntava simbolicamente minhas duas vidas que, goste eu ou não, sempre foram fracionadas. A leitura do Estadão era breve. Uma olhada rápida nas manchetes e uma leitura mais atenta de uma ou outra matéria.  A leitura do Quinta tinha outra característica. Mais do que informar-me – e era muito prazeroso informar-se sob a batuta de Juvêncio de Arruda – eu me lincava a essa vida belemense acionando a Quinta Emenda. Quem sabe um inconsciente desejo de sobreviver a Belém.
 
Há cerca de um ano eu gosto também de abrir pela manhã uma terceira página, o Espaço Aberto. Paulo Bemerguy é para mim o melhor jornalista de blogs que temos aqui. Não considero o Paulo um blogueiro. Blogueira sou eu. Ele é um jornalista que tem um blog. E por ser apenas blogueira, classifico com essa facilidade: há os que gosto de ler e os que leio, mesmo sem gostar.
 
Introduções à parte, comecei a escrever isto porque uma sensação muito forte tomou conta de mim ontem à noite. E, mais do que nunca, a quinta emenda da Constituição americana fez sentido.  Indispensável invocá-la no seu sentido estrito, quando agentes da administração cometem abuso de poder e arbitrariedades.
 
Desci às 21 horas na Praça da Bandeira e temi de forma quase incontrolável a escuridão e a solidão das ruas. Ali, qualquer ato de violência poderia ser cometido, sem proteção ou socorro.
 
Caminhando até a 16 de novembro, passei pelo CEPC, pelo prédio do TRE, pelo Corpo de Bombeiros. Tudo muito escuro. Com exceção dos Bombeiros onde havia iluminação interna.
 
A escola parecia uma edificação abandonada, daquelas que antecedem uma cena horripilante nos filmes de terror. Em frente ao TRE  há  uma armadilha para assaltos, que se preparada propositalmente não teria mo mesmo efeito. Criatividade insuspeitada está perdida por ali!.  Entre o portão do tribunal e a árvore há uma moita de plantas – sim, porque arranjo de plantas é outra coisa - favorecendo o esconder-se a qualquer mal intencionado e a surpresa do ataque para os desavisados.
 
A rua, mal iluminada, é problema da Prefeitura. Eu sei disso e o Ambrósio também. Mas, a que ponto da cidadania – ou da ausência dela – chegamos? Edifícios públicos que sequer iluminam suas entradas, contribuindo para a insegurança dos imbecis que lhes pagam, num momento de violência urbana crescente e devastadora?
 
Alguma alma virá talvez argumentar que  “ as instituições responsáveis estão fazendo economia de gastos, face à crise que assola o país etc. e tal” ou reforçar o argumento de que a iluminação pública é dever e obrigação da Prefeitura.
 
Mas não é obrigação maior então do TER, da direção do Instituto de Educação e do Corpo de Bombeiros exigir da administração pública que cumpra seu dever, mais do que os poucos moradores do entorno ou uma passante casual como eu?
 
Há tantos casos assim nesta Nova Déli.  Vou descrevê-los com mais dedicação. Uns dias aqui, outros ali .
publicado por Adelina Braglia às 09:18

Julho 2009
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
11

14
16
17
18

19
21
24
25

26
27
29
30
31


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO