Dia 18 de julho completam-se 27 anos do assassinato de Gabriel Pimenta, em Marabá. A idade que ele tinha naquele fatídico dia em que alguns resolveram apagar a luz que iluminava a vida, o desejo e o sonho de muitos.
Gabriel era, naquele momento, advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá e sócio fundador da Associação Nacional dos Advogados dos Trabalhadores da Agricultura. Com o apoio de Benedicto Monteiro – escritor e poeta que também era advogado - conquistou no Tribunal de Justiça do Pará um inédito feito até então, e creio que ainda não foi repetido, que foi garantir judicialmente que cerca de 150 famílias de posseiros, expulsas violentamente da terra, a ela retornassem pela via judicial e com o apoio da mesma polícia que semanas antes havia cometido contra eles todas as truculências recorrentes e até hoje sempre cometidas nessas desocupações: agressões, quebra e queima de utensílios e, mais do que isso, a humilhação de serem tratados piores do que se fossem animais.
Além da atividade de advogado Gabriel recuperara em Marabá a nossa capacidade de construir e reconstruir entidades como o PMDB, a Associação dos Carregadores de Carga, o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, o então ainda incipiente Sindimetal e apoiou a criação da Associação da Mulher de Marabá, trazendo consigo a brisa da cidadania restaurada que então arejava o resto do Brasil.
Seus assassinos jamais foram julgados. Um deles, Manoel Cardoso Neto, irmão do famigerado Newton Cardoso, ex-governador de Minas Gerais e deputado federal, acoitou o irmão nas suas fazendas até que, após reiteradas tentativas de leva-lo a julgamento, atingiu 80 anos e foi liberado sem ser julgado. Em 2006, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará decretou a extinção do processo em razão de prescrição.
A CPT/Diocese de Marabá e o CEJIL-Centro pela Justiça e Direito Internacional , com o apoio da família, recorreram à Comissão de Direitos Humanos da OEA que em janeiro deste ano aceitou a denúncia. Com isto, o governo brasileiro está sendo responsabilizado pela omissão na punição dos criminosos e reconhece com isto um fato importante, não só para a punição dos assassinos de Gabriel Pimenta, mas para os de centenas de crimes semelhantes que ocorreram antes e depois. A OEA reconhece que sua morte foi "motivada por suas atividades.
Sem me preocupar com a possível morosidade do andamento do acatamento da denúncia, comemoro a sua ocorrência. E este mês de julho, após 27 anos, traz uma brisa mais leve, com cheiro tardio, mas suave, de justiça.