" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

27
Mai 09

 

Escrevo com a tristeza de perceber que meu blog, nos últimos dois anos, deeestina espaço ao necrológio de amigos.
 
Não vou ao velório do Ronaldo. Nós nos despedimos por telefone, quando lhe cobrei que resistisse e ele, com a voz já frágil e embargada, disse que tentava, mas que estava difícil.
 
Hoje ele descansou da impossibilidade de rir, de fumar, de contar fantásticas histórias dos anos dourados de Belém e dos anos de chumbo do Brasil. Desistiu de lutar contra a impossibilidade de retornar à luta, de distribuir ironias que embalavam esperanças.
 
Meu amigo Ronaldo Barata era um sonhador. Como são os sonhadores, perdia às vezes o link entre a vontade e a conseqüência.
 
Seus amigos conhecem histórias fantásticas de decisões suas, quando entre o legitimo e o legal, ele optava pelo primeiro, como defesa do direito e depois corria contra o tempo, em busca da legalidade.
 
Trabalhadores rurais, lideranças sindicais, comunitárias e políticas, tiveram em Ronaldo um companheiro de muitas das suas vitórias, derrotas e conquistas e abrigaram-se sob sua generosa visão de justiça. Os quilombolas do Pará, que demandavam reconhecimento de direito constitucional, encontraram no seu espírito libertário o abrigo exato para conquistarem o primeiro título de terra e o avanço do seu direito de propriedade.
 
Na nossa despedida, pelo telefone, frágil , mas sem abrir mão da ironia fina e amável, disse que jamais esquecera que eu era a única pessoa que o esculhambava com voz mansa. É com essa mesma voz, querido amigo, que espero que você ouça esse até sempre.
 
 
publicado por Adelina Braglia às 08:49

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