TOADA 121 ANOS DEPOIS
Hoje, daqui a pouco, aqui,
Dezenas de nós, em todo canto,
Ergueremos aos céus
Os punhos desimbambados
As cacundas libertas de libambos
Toando ao ritmo rouco das angomas
Gingando, cambalhotando
Ao som de nossos frouxos berimbaus.
Ali,
Estarão aqueles
Que não inventaram nem o ritmo
Nem a ginga,
Com seus dread-locks de fio plástico
Seus abadás de feira
Seus laguidibás de camelô
Ares compungidos por exigência do mercado.
Mas que sejam benvindos!
E que sejam louvados! Saravá.
Enquanto isso,
Aqui, lá, acolá, e desde sempre
No escuro dos arquivos
No mistério dos pegis e gongás
Nos templos fora-do-comércio
No exílio da mente
Outros tantos
Mas nem tantos
Evocarão nosso holocausto mambembe,
Sem público, sem lobby, sem audiência
Com a chama só de uma vela
Mais três gotinhas de água fresca
Uma caneca de café
E uma tamina de angu
Depositados ao pé desta lembrança.
(Nei Lopes, 13.05.09)