
Ontem, no nosso almoço de família, do meu jeito ateu, agradeci a um deus as minhas três irmãs. A quarta, a biológica, fez também a mesma coisa. Olhando minhas irmãs, filhas da madrinha e do padrinho, de quem sempre fomos, Rita, Oswaldo e eu, os irmãos mais novos, abraçando-as juntas, depois de alguns anos quando nos víamos parceladamente, lembrando e rindo, almoçando o especial picadinho que a Lula sempre faz quando peço, percebi como sempre foi natural para mim esse amor de mães e filhos, irmãs, tios, tias e primos “postiços”, onde o laço de sangue significa absolutamente nada.
Percebi também que de cada uma delas herdei grande parte daquilo que tenho de melhor: da Nena, o humor, da Cleide, a capacidade de reflexão, da Lula, a garra para a superação. E delas, e da madrinha e do padrinho, o exemplo do amor generoso. O que tenho de ruim, conquistei sozinha.
Fruto de uma observação da Cleide, pude compreender melhor também o privilégio que temos - elas e eu e meus dois irmãos - de compormos uma grande família, onde as dificuldades existiram para nos unir, onde a distância geográfica tem uma única conseqüência, a saudades, e o quanto se pode ser capaz de desdobrar afetos para repartí-lo quase igualmente entre todos.
Uma vez, quando uma amiga resolveu fazer meu mapa astral, disse-me entre cautelosa e irônica, que na minha casa dos bens materiais eu não tinha nenhum planeta, significando, pelo que entendi, que a pretensão que jamais tive de ter bens, realmente jamais se realizaria. Mas, em contrapartida, disse ela, a minha casa da família e dos amigos, estava congestionada por planetas amontoados querendo dividir o espaço.
Convenço-me hoje disto. Minha herança astral é a melhor que alguém pode receber dos céus. E ter mãe e pai, irmãs e tios, primos e netos, além de amigos, doados pelos astros, é um privilégio que me faz também acreditar que o que adquiri sozinha não se sobrepôs ao que me foi doado.
Um beijo, irmãs. Vocês deram e dão o melhor sentido da minha vida: a generosidade é a melhor virtude. O resto é figuração.