"Nenhum senador – nenhum – foi à tribuna do Senado para defender a candidatura do senador José Sarney (PMDB) à presidência da Casa.
As ausências dos votantes em Sarney (acima na foto da Agência Senado, cumprimentando seu adversário Tião Viana) foi tão notória, tão constrangedora, tão visível, tão clamorosa que o senador Cristovam Buarque não desperdiçou a oportunidade de fazer uma ironia: “Daqui a pouco, vou pedir para falar em defesa do senador, porque seus aliados não comparecem para defender sua candidatura."
Ninguém se iluda: a vergonha impediu que senadores assomassem à tribuna para defender a candidatura Sarney.
Vergonha por quê?
Por estarem apoiando Sarney, ora essa.
Porque o apoio a Sarney suscita mesmo vergonha. Ou vergonhas.
Sarney representa um Brasil do passado.
Representa o caciquismo despido de quaisquer veleidades intelectuais.
Representa o baronato que impera nas políticas provincianas.
Representa as circunstâncias aliadas aos interesses – ou os interesses às circunstâncias, como vocês queiram – que menos se afinam aos interesses do País.
Representa o coronelismo nada esclarecido – ou esclarecido à custa da lábia, da lisura, da demagogia renitente e resistente.
Representa a submissão do Congresso ao Palácio do Planalto. E sob Sarney, o Congresso seria subserviente a quem estivesse no Palácio do Planalto – qualquer um.
Sarney é tudo isso.
O Senado, pela maioria de seus membros, sentiu-se envergonhado de externar claramente, sem peias, sem constrangimentos, seu apoio a Sarney.
Mas apoiou Sarney no refúgio aconchegante da votação secreta, no refúgio aconchegante do silêncio.
José Sarney, presidente do Senado da República.
O Senado merece o Sarney que tem.
O Brasil, não.
Não merece nem Sarney, nem este Senado que o elegeu seu presidente."
(Do Blog Espaço Aberto, lincado ao lado)