" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

22
Jan 09

 

 

Tempo I
 
um beijo na filha, para ir ver a mãe,
o encontro, os tiros.
 
caindo devagar, o tempo encomprida:
dá tempo de ver o tempo,
dá tempo de sentir a chuva,
dá tempo de ver o algoz,
a farda escura,
o sorriso cínico,
o dever cumprido.
 
Tempo II
 
balançando na rede
conversa com o irmão
o barulho dos tiros
chacoalha o casebre
 
a rede vira asa
para o inferno ou o céu.
 
 
Tempo III
 
se matam João,
se roubam José,
se espancam Maria,
não há reação.
 
Mas, se matam um igual,
a tropa se agita,
a farda executa.
 
 
(*) Título do post de Juvêncio de Arruda.
 
“Pois nas 48 horas que se seguiram ao assassinato do cabo Cunha, a Rotam executou cinco pessoas, todos homens.
A Rotam matou cinco. Primeiro, eliminou quatro; posteriormente, mais um corpo foi encontrado. Ao todo, repita-se, foram cinco.
Como foram mortas as vítimas?
Morreram em confronto, diz a polícia.
Foi?
Não. Não foi - dizem os familiares das vítimas.
Todos foram executados friamente, sem que tivessem esboçado reação alguma.” (Blog Espaço Aberto)
 
publicado por Adelina Braglia às 09:45

 

Quem sabe um pão caseiro e um chá de cidreira, quentinhos, pudessem amainar o mal estar. Acompanhariam uma conversa sobre todas as nossas boas possibilidades de virarmos uma nação e a previsão de um futuro feliz para os filhos, irmãos e amigos queridos, entremeadas por lembranças, risadas e afagos.
 
Quem sabe, talvez, se nos afogasse aquele mar de esperanças que cercou a posse de Obama, composto por rostos negros, velhos emocionados e crianças sorridentes? Se tivéssemos no coração um tiquinho de “volver América”, o pão e o chá, quem sabe, se fizessem desnecessários.
 
Quem sabe se eu deixar de ler e ouvir noticiários? Navegar apenas nos sites de música e poesia! Hum!?!?!? Parece bem, assim. Leria apenas os poemas de amor de Neruda, excluídos os de amor ao Chile. Lorca eu deixaria de lado, pois aquele galego só pensava em liberdade! Leria Vinícius, pulando o Pátria Minha. Alguns “nacionais” seriam riscados da coletânea: Geir Campos, nunca mais.
 
Músicas. Difícil. Há canções cuja letra seca pode dizer nada, mas a entonação do intérprete nos leva a mil viagens. Necessitariam de uma rígida censura. Declaro, porém, que não ouviria nada cantado pelo Raulzito, Tim ou Cássia Eller, transgressores por natureza. Ouví-los, ainda que cantando a-galinha-do-vizinho-bota-ovo-amarelinho, faria mal a essa determinação de estar bem no mundo.
 
Esqueceria os números que sei de cor. Nada de proporção de analfabetos pretos e pardos, salários pagos às mulheres negras, índice de evasão escolar na faixa de 15 a 17 anos, ou indicadores de causa de morte nesse mesmo segmento.
 
Seria preciso um  esforço para  não sair de casa. Na rua é impossível não ver as crianças abandonadas, os adolescentes sem futuro, os adultos desamparados e os velhos sem esperanças.
 
Quem sabe, sem nada disso, seja possível, ainda assim, sentir-me melhor se fizer coisas simples como:
 
1 – não ouvir o Presidente Lula;
2- falar mais vezes com os irmãos, sempre que a saudade superar o nível do suportável;
3  - não dar audiência para o Jô e seu pedantismo de falsete;
4 – continuar a desmentir o William Bonner, nas poucas vezes em que assisto o Jornal Nacional;
5 - continuar a achar o William Waack um ótimo apresentador, mas jamais ouvir o “new patriota” Arnaldo Jabor
6 -  lembrar sempre do filme a “A família Savage”;
7 - tomar mais vinho
8 – fazer um poster desta “micagem” da Bia. 
 
 
 
 
publicado por Adelina Braglia às 02:22

Janeiro 2009
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
13
15
16
17

18
21
24

25
26
28
30


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO