O Papa Bento XVI propõe um tipo de ecologia humana que salve os gays, assim como se salvam as florestas. Se o assunto não fosse tão sério e a declaração tão esdrúxula, mas com repercussões graves, diria ao Papa que a voz corrente é que não existe ex-gay. Com exceção daquele da novela da Globo.
Na interpretação do correspondente do Estadão, o Papa disse que "salvar" a humanidade do comportamento homossexual ou transexual é tão importante quanto salvar as florestas do desmatamento. E que humanidade precisa "ouvir a linguagem da criação" para entender os papéis de homens e mulheres. Segudo o Pntíficie, os comportamentos que vão além das relações heterossexuais são "a destruição do trabalho de Deus" e a Igreja deve proteger o homem da destruição de si mesmo. “Um tipo de ecologia humana é necessária" e "As florestas tropicais merecem nossa proteção. E os homens, como criaturas, não merecem nada menos do que isto".
As “preocupações” da Igreja Medieval, em garantir e preservar o direito de herança dos senhores – a instituição do casamento aliada à fidelidade feminina para evitar que a herança caísse em mãos de filhos alheios - a preservação da própria e vastíssima riqueza – o celibato dos padres, para evitar aborrecimentos com divisão do santo patrimônio em heranças - não estão centradas na fé.
As declarações atuais de Dom Ratzinger também não. Lembremos que Dom Ratzinger, imediatamente após a posse deu o primeiro golpe no Concílio Vaticano II para atrair os tradicionalistas, autorizando a Igreja a retroagir à missa em latim. Especialistas como Michel Cool analisam que este golpe pode ser o primeiro de uma sequência de outros que vão atingir os avanços daquele Concílio: a liberdade religiosa, o ecumenismo, o diálogo entre as religiões e uma visão positiva da humanidade.
É dentro desta visão positiva da humanidade que espero que Dom Ratzinger, apesar do discurso bombástico pela salvação dos gays, priorize suas cruzadas: salvemos primeiro o mico-leão dourado, a arara-azul, o ipê-roxo, o ingazeiro, os famintos, os sem-teto, os desesperados. Não necessariamente nesta ordem.
A ecologia humana agradece.