"A floresta é o homem, não a árvore".
" Em 1970, quando tinha 20 anos e estava pela primeira vez na Amazônia numa expedição de primeiro contato com os índios panará, o fotógrafo Pedro Martinelli estava descansando em uma rede e, ao seu lado, em outra rede, estava Odair, caboclo na época construtor da estrada Cuiabá-Santarém. "Eu era um deslumbrado", diz agora Martinelli, que se virou naquele momento para Odair e fez qualquer comentário sobre a beleza da floresta. "É, Pedrão, é bonito e triste...", retrucou sabiamente o mateiro com seu rádio de pilha ao lado. Essa é uma das tantas histórias que Pedro Martinelli uma das histórias presentes no livro Gente X Mato, que o fotógrafo lança hoje, às 19 horas, na Livraria Cultura (...)"
"(...) Em sua casa, em um local afastado da metrópole São Paulo, Martinelli vai mostrando com simplicidade e emoção algumas das fotografias com seus anjos da guarda. "O meu Deus é um caboclo específico, que está lá parado e você encontra raramente. Ele tem uma atitude e um olhar tão penetrante que quase te hipnotiza... Ele não está submisso, ele não ri, a atitude dele é assim, parada", diz o fotógrafo, apontando para uma foto com um grupo de pessoas debaixo de uma lona, que ele demorou dez dias para fotografar ; e uma imagem e levou um ano e meio para captar: o movimento exato de um homem sobre um barco pegando um pirarucu no Lago Paraoá, em 1996.
Mas a Amazônia é bela e triste e hoje Martinelli se vê um pouco desencantado com seu tão caro tema. O livro Gente X Mato - feito em parceria com o jornalista e roteirista Marcelo Macca e com o designer Ciro Girard, com capítulos como Comida, Solidões, Amazônia de Quem? - já começa com a reprodução de um anúncio do governo militar, lançado em 1970, com o slogan "Chega de lendas, vamos faturar!" São, como diz Martinelli, 40 anos vendo gente faturando, além de "muito desleixo" e miséria. Dessa maneira, Gente X Mato tem sempre também um olhar crítico e incisivo."
(Texto e fotos Agenciaestado)