Quanto eu tinha pouco mais de 5 anos, sofri uma queimadura grave. Naquela época, o tratamento de queimaduras era cruel: foram semanas (ou meses?) de repouso.
Para me consolar, meu pai comprou um rádio. Daqueles ovalados, grandes, de madeira. Que ficava ao lado da minha cama. E eu passei a fazer do rádio o companheiro das horas de dor e preguiça.
Nele conheci Dalva de Oliveira, Francisco Alves, Izaurinha Garcia. Ouvi muitas novelas! E ouvia sempre Jerônimo, o justiceiro do sertão!
Naquele rádio, ouvi a notícia do suicídio de Getúlio. E ouvia, pela manhã e à tardinha, muita música sertaneja, onde a viola era a estrela. E havia o locutor que lia mensagens de amor, e as começava sempre assim: “... meu inesquecível amor...”.
Quando fiquei bem das queimaduras, já podia sentar no degrau do quarto de casa, que dava para o quintal. E ali, bem junto ao degráu, estava o pé de anis. Cleide me visitava quando chegava do colégio. A Lula tinha - quase como imposição da madrinha - que me fazer companhia. A Nena estava livre dessa chatice: já trabalhava!
Junto com o cheiro de anis e o som da viola, veio uma enorme saudade delas. E a certeza de que nunca estive tão protegida dos males do mundo quanto naquelas tardes.
Beijo, queridas.