" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

20
Out 07

 

 

Um chá de hortelã e drops de anis. É o que eu gostaria de ter agora. Mas não os tenho.
 
Aliás, a hortelã eu tinha até poucos dias. Uma muda com folhas tímidas penduradas num vasinho na cozinha da casa. Murchou. Mas sem o complemento do drops de anis, não me anima a fazer o chá.
 
A vontade do chá e a saudade do sabor do anis completam esta sensação da presença da mãe, que senti de repente. E que me leva a decolar neste devaneio , deduzindo que foi  para ver seus filhos que ela chegou aqui!
 
O chá de hortelã era para espantar os vermes, certo? O drops de anis era um raro mimo, que tínhamos que fazer por merecer. Quem sabe por isto seu sabor era tão bom.
 
Havia também um pé de anis junto ao degrau do quarto que dava para o quintal, em frente ao balanço da casa da Girassol. Balanço construído pelo pai, que eu curti mais que meus irmãos, porque construído para mim. E quando eles nasceram e cresceram um pouquinho, mudamos de casa.
 
O pé de anis dava uma florzinha azul, delicada, que eu gostava de mastigar. O anis é do tempo do anil, que se colocava na água de enxágüe da roupa branca, para deixá-la mais branca e bonita.
 
Eu tive a sensação da mãe sentar-se aqui ao lado, sem que isso me faça arrepiar ou pensar em assombrações. Como a querer notícias!
 
Estão aí seus filhos, mãe. Do nosso jeito, demos certo na vida. Cada um de nós persegue sua verdade e mora debaixo da própria cabeça. Os netos que você não conheceu já são oito. Bisnetos? Caramba! São cinco, e há mais um a caminho.
 
Proteja-os. Abençoe-os. Quem sabe foi isto que você veio me dizer que já faz.
 
Para me tranquilizar.
 
Beijo, mãe.
 
publicado por Adelina Braglia às 14:31

 

Uma coluna já cansada de me carregar e um tombo foram bons motivos para uma ausência, um “tilt”, um “break”.
 
 O desconforto de ficar sentada escrevendo prejudicou a vontade que já andava fraquinha, pois escrever é resumir os letreiros que correm dentro da minha cabeça e eles andavam rodando lentos e confusos a ponto de sequer me dispor a filtrá-los. Uma conveniente soma de fatores.
 
Na verdade, o parágrafo acima é presunção pura. Creio que ordenar minha cabeça é tarefa na qual jamais me empenhei. No máximo, tiro a poeira das prateleiras, arrumo uma lembrança aqui, outra acolá, tento jogar fora algumas que apenas fazem peso sem significar nada e colocar outras recentes. E torcer para conseguir conviver com as boas e as más lembranças sem muitas culpas.
 
E, como a canção abaixo, acho que não há nada como um outro dia. Não necessariamente solitário.
 
Não sei. Vamos ao sábado. Com poesia. E música.
 
 
 
 
" Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
 
 
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
 
 
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
 
(Herberto Hélder)
publicado por Adelina Braglia às 11:37

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