" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

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Out 07
Dia Internacional do Idoso.
 
Ser idoso – ou quase – é uma imposição. A qualificação – terrível ou suportável – cada um faz a sua.
 
Detesto essa história de “melhor idade”. Cheira a consolo perverso. No caso brasileiro, cheira a cinismo. Ser velho por conta do INSS e do SUS é muito diferente da velhice amparada pelo sistema público de aposentadorias e pensões e de assistência à saúde em Barcelona!
 
Reconheço que ser velho hoje é menos cruel, os recursos para prolongar a vida útil são inúmeros. Mas, ainda que cremes, silicones, botox, alimentação saudável, exercícios, caminhadas, o escambau e muito amor posterguem o envelhecimento, o fato é que o tempo corrói, gasta, exaure.
 
Embora morrer seja contingência da vida, é muito chata a idéia da morte. Desagradável. Sacana até. E essa sensação é contraditória, pois o cansaço vem, mas não a vontade de sair do barco.
 
Acho que esse é o papel da velhice. Vem para nos preparar ou nos convencer que é preciso cair fora da vida. Imagino que não se carregue saudades e que as que ficam entre os que nos amam, com o tempo amainam, tornam-se rotina, como o nascer do sol, o cair da noite. Foi assim comigo e com as minhas perdas. E eu amava muito os que perdi.
 
A velhice traz saudades do que não fomos ou não fizemos. Traz impaciência para com os mais jovens, impaciência que acoberta a inveja do que eles ainda poderão sonhar e fazer. A tal experiência que temos é nostálgica., chega a ser amarga em alguns momentos,  quando se sabe que não se vai mais ter tempo para usar tanta sabedoria acumulada!
 
E por isso exigimos com tanta veemência que os jovens nos respeitem. Acho que a isso se chama vingança....rsrsrs....
 
Mas, para consolo, tenho uma certeza: prefiro envelhecer neste século a ter nascido no tempo em que chamavam todas as velhinhas de vovó. Nestes tempos modernos estamos incluídas numa categoria nebulosa, aparentemente mais jovem: somos todas tias.
 
Mas, se fica na boca um gosto de ternura, a gente suporta, Rosa Maria.
 
 
publicado por Adelina Braglia às 08:02

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