As "cansadas".....
(Foto:uol.com.br)
...e a que não se cansa....
Sueli Carneiro
" Eu creio que, historicamente, tem havido uma dificuldade, mesmo em setores progressistas da sociedade, de reconhecer a função estruturante que o racismo tem nos padrões de violação de direitos humanos no Brasil. Se nós admitirmos que as violações dos direitos humanos estão muito localizadas, e a grande magnitude que elas assumem sobre populações historicamente excluídas, vulnerabilizadas, discriminadas e consideradas seres humanos “não suficientemente humanos”, teríamos que ter essa temática [do racismo] como central nos desafios para a realização plena dos direitos humanos no Brasil. Mas não é isso que ocorre.
Em geral, é uma temática que, historicamente, foi tratada de forma marginal ou sequer foi reconhecida. É um padrão de compreensão da sociedade brasileira que vem se alterando, mas não o suficiente para lidar com a centralidade que ela tem. E isso me parece ainda fundamental, sobretudo num momento em que temos uma reação violenta de setores conservadores, que estão tentando fazer retroceder a legitimidade que essa temática vem conquistando na sociedade. Por isso, é um momento de muita preocupação. Não necessariamente pela avalanche conservadora, porque ela repete outras reações, em outros momentos de outras conjunturas. O que assusta mais é a inação, o imobilismo da parte progressista da nossa sociedade, dos movimentos sociais e de organizações não-governamentais, para fazer frente a essa reação. É uma reação que conjuga importantes atores, mídia, intelectuais, parcelas importantes das elites econômicas – todas operando em uníssono para desautorizar as reivindicações de um movimento histórico, como é o movimento negro. Isto é, querem desconsiderar reivindicações que são baseadas em observações empíricas, estudos e pesquisas que mostram uma desigualdade racial brutal no Brasil; e que, conjugada a ela, existem padrões de violência sobre a população negra que beiram a práticas genocídas. Isso é uma coisa fundamental a ser observada. É muito gratificante que o Inesc assuma a responsabilidade de pautar os temas gerais estratégicos para responder positivamente a uma agenda de reconhecimento dos direitos humanos. E que, no interior dessa preocupação, o Inesc paute com essa importância esse tema das desigualdades raciais, do racismo, da discriminação, e da violência que a violação dos direitos humanos produz."