" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

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Ago 07

 

 

" A voz que não morre

Eduardo Lauande abriu sua tenda no mundo. Tinha o largo espírito avarandado de suas origens, circulando como um beduíno por todos os lugares, em cada um deles deixando sua marca de alegria, desprendimento e generosidade. Sua morte, aos 41 anos, no final do mês passado, foi um ultraje à sua vida. Foi assassinado com dois tiros por um dos dois assaltantes que investiram contra sua esposa, a quem tentara defender. Disparos feitos deliberadamente para matar. Bastaria ao bandido um golpe de mão para se livrar do inesperado atacante e fugir, ainda levando o butim da ofensiva. Mas como a vida vale pouco, ou nada, achou de punir o cidadão com a pena máxima, ao alcance do seu capricho, do poder absoluto que essas pessoas violentas se conferem numa sociedade que não se dá conta do valor singular da vida humana – e não a defende com os meios possíveis, desejáveis, necessários.
Lauande foi morto em frente à casa onde morava, da mãe. Recém-saído de um cargo importante na Secretaria de Planejamento do Estado, se locomovia em ônibus e táxis, por não dispor de condução própria. Sua residência era num bairro popular, o Marex, que confina com uma área de invasão, cenário para um ambiente de tensão permanente, que freqüentemente resulta em violência, sangue e morte.
Lauande abstraía essas condições para manter seu modo de viver, sempre aberto às festividades, do corpo e do espírito. Merecia uma morte digna: depois de viver bastante, intensamente, como sempre fez, e ao lado dos muitos e firmes amigos. O encontro final foi precoce e triste, mas todos estavam lá. Chocados, indignados, revoltados, mas ao lado do cidadão que congregou tanta e tão dispare gente com sua tenda de amizade, ampla e incondicional.
Essa morte foi um atestado da barbárie que impera na cidade e não um retrato de Lauande. O retrato que temos dele – e que ficará conosco para sempre – é exatamente o oposto: a consagração do valor único da vida. Uma lição que cumpre agradecer e exaltar. Foi o recado silencioso e definitivo do ruidoso Eduardo André Risuenho Lauande."
Lucio Flávio Pinto, Jornal Pessoal, agosto de 2007.
publicado por Adelina Braglia às 09:03

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