Talvez por esta presunção de ter privilégios numa sociedade injusta, não consegui dar continuidade ao ensino religioso e perdi a minha fé logo no começo desta caminhada.
Creio que a presunção é responsável também pela desconfiança com que vejo a astrologia, as sinas, os fados e os destinos. Surpreendo-me, no entanto, muitas noites, rezando a oração do Santo Anjo - que Rosa, carinhosamente, ensinou aos meus filhos quando eram pequenos – e faço isto pensando que é o melhor, para protegê-los de mim e do mundo.
Desprezo a suntuosidade, considero a riqueza, sob suas diversas formas, um roubo – herança, apropriação do trabalho alheio, ou roubo mesmo - e acredito, como Lulu Santos, que toda forma de amor vale a pena. Mas isto não faz de mim uma pessoa melhor do que gostaria de ser.
Desisti de acreditar no futuro que nunca chegou e lembro que éramos muito felizes na década de 50, quando a industrialização parecia vir sanar todos os nossos males e podíamos expor sem remorsos nosso egocentrismo na música popular brasileira, olhando o barquinho e nos ufanando do mar de Copacabana.
Olho a Bia aqui ao lado e penso que jamais direi a ela desta minha amargura. E porque esta é uma linda tarde de sábado, vamos tomar sorvete, que o tempo dela é curto para tanta alegria.