Ando sentindo saudades de mim,
daquela que eu teimo que era,
mas que não tenho mais certeza se existiu.
E quando sinto esta saudade de mim,
- o que tem acontecido com uma indesejável freqüência –
sinto, na verdade, falta das risadas frouxas e dos ataques de fúria
que só aconteciam, os ataques,
porque havia uma inabalável certeza de que tudo mudava,
mas muito devagar.
Quando sinto esta saudade de mim, quase não me reconheço no espelho:
olhos baços, na boca um traço entre o cansaço e o susto.
Se eu tivesse sido o que imagino ter sido,
seria eu hoje esta somatória de desejos não realizados
e feroz auto-controle sobre a minha intolerância?
Quem sabe apenas não gosto do que sou agora
e tenha inventado uma mulher no passado para ter o consolo de ter mudado?
Mas esta saudade de mim é tão forte
que prefiro continuar a crer que existi.