O que aconteceria se, num país civilizado - onde cidadãos respeitam e são respeitados pelas autoridades – um juiz do Supremo Tribunal chamasse, indiretamente, um ministro de canalha e este respondesse, indiretamente, que é mesmo?
“O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes acusou na noite desta quarta-feira a Polícia Federal de agir com métodos "fascistas" na Operação Navalha.
O ministro disse ser uma "canalhice" o vazamento de informações pela PF sobre inquérito que tramita em segredo de Justiça. Mendes responsabilizou o ministro Tarso Genro (Justiça) pelo vazamento de informações da Operação Navalha.
"É responsabilidade do ministro da Justiça responder por esses vazamentos. Eu disse hoje ao ministro Tarso que esse tipo de prática revela uma canalhice. Não podemos brincar com as pessoas sérias do país", criticou.”
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u92789.shtml
“O ministro Tarso Genro (Justiça) admitiu nesta quinta-feira o possível vazamento da Polícia Federal de informações sigilosas do inquérito da Operação Navalha --que desarticulou uma suposta quadrilha que fraudava licitações para realização de obras públicas. A conduta da PF na operação foi criticada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.
"Se houve algum equívoco, algum vazamento, e é possível que tenha havido, se houver alguma lesão ao direito individual de alguém, isso deve ser corrigido", disse Tarso hoje à tarde no Rio.”
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u92820.shtml
Tem negros na sua redação? |
Recentemente, em entrevista concedida aqui no Comunique-se a respeito da minha mais recente publicação, ” Revolta dos Búzios – Uma História de Igualdade no Brasil”, o brilhante jornalista José Paulo Lanyi desferiu-me uma pergunta que jamais imaginei pudesse causar tantos comentários pró e contra a presença de negros nas redações. Respondi que, de acordo com minha experiência em todas as redações por que passei, a realidade era a quase inexistência da presença negra . Disse-lhe que atribuía isso a vários fatores, que o principal talvez fosse a falta de qualquer tipo de política de inserção de negros nas universidades e que isso não era um caso isolado no jornalismo brasileiro. Estamos fora de qualquer posto de comando, decisão e estratégico da mídia, da política, do comércio, da indústria, enfim, da economia brasileira. Mesmo sendo quase 50% da população deste país, ocupamos hoje um percentual insignificante dos bancos escolares nas universidades. Só para citar um exemplo: pesquisa realizada recentemente na USP- Discutir de forma clara, objetiva, sem ranço e preconceitos a aplicação de ações afirmativas e cotas no Brasil tem sido uma tarefa difícil para ativistas que lutam por um país justo e menos desigual . É impossível entrar nessa discussão sem levar em conta aspectos históricos, políticos, econômicos, sociais e culturais do povo brasileiro . Aliado a esse estudo há de se pensar também a questão racial, sim, mas pelo prisma do principal vitimado dessa problemática: o próprio negro. Todas as pesquisas dos mais respeitados órgãos, como IBGE, IPEA e DIEESE, apontam para a cor da pele no Brasil como um forte demarcador de posição e decisiva no ingresso , permanência e ascensão do negro no mercado de trabalho, na maioria das vezes independentemente do grau universitário deste “cidadão”. São dados de órgãos respeitados obtidos por técnicos, e não por militantes da causa negra . Os relatórios são quase unânimes em afirmar que sem uma política clara e objetiva de inclusão do negro não haverá a menor chance de quebrar a barreira da exclusão , preconceito e do racismo brasileiro. Em uma sociedade como a nossa em que quase todos estão perdendo alguma coisa e apenas uma minoria domina os principais setores da economia, da política e conseqüentemente da vida nacional, o simples fato, a mais remota hipótese de que uma medida tentará reparar parte das injustiças históricas com uma minoria discriminada - e que boa parcela da população “em tese” ficará de fora- tem causado enorme barulho e revolta daqueles que se sentem aviltados nos seus direitos e também dos preconceituosos enrustidos, que nunca defenderam nada, mas que agora saem da toca defendendo escola fundamental pública de qualidade para os negros se prepararem melhor (sem cotas); saem também na defesa dos brancos pobres (com cotas sociais); denunciam racismo às avessas e uma série de outras baboseiras sem o menor fundamento teórico ou técnico. Os próprios técnicos do IPEA apontam que mesmo com ensino fundamental de qualidade a comunidade negra levaria décadas para reverter a desigualdade secular em que se encontra neste país. Raros são os jornalistas que procuram pesquisar a fundo a questão levando em consideração a histórica exclusão econômica, política e social do negro no Brasil. Mais raros ainda são aqueles que escrevem ou se dedicam a fazer um estudo profundo sobre o 14 de maio de 1888, o dia mais longo para o negro no Brasil, uma vez que ele ainda não acabou, pois, após mais de 350 anos de trabalho para a construção desta nação , fomos jogados às margens da sociedade sem qualquer reparação ou política compensatória, ou inserção na nova economia. Raríssimos são os jornalistas como Miriam Leitão, da Rede Globo, que mesmo de forma solitária tem a coragem de dizer que o Brasil só resolverá seus problemas econômicos no dia em que encarar seus problemas raciais, pois essa questão é sim fator de desigualdade, e sem o seu enfrentamento estaremos fadados a não sair do Terceiro Mundo. Raros também são aqueles capazes de admitir que durante toda a sua carreira poucos foram os seus colegas negros de redação não pertencentes ao “quadro negro” de manutenção, como seguranças , copeiros , ascensoristas e às vezes recepcionistas. Dentro desta linha , raros, incluem-se também os veículos de informação capacitados para um debate franco, aberto, sem conceitos já preestabelecidos, uma vez que lhes falta o mais importante: material humano que lhes garanta imparcialidade no assunto. Porém, a “tradição” da imparcialidade contemporânea da imprensa brasileira tem demonstrado em alguns casos um grande esforço em entender e abordar de forma justa essa questão. A última tentativa quase bem-sucedida foi da revista Superinteressante, que na edição de maio (talvez por conta do 13 de maio) publicou extensa matéria sobre as cotas nas universidades brasileiras. Tentando uma imparcialidade total , a revista abre espaços para os prós e para os contras das cotas. Analisando tecnicamente a matéria podemos perceber que foram dadas 175 linhas de texto para os argumentos favoráveis às cotas e 214 linhas para os contrários às cotas . O lado positivo da matéria é a pesquisa que a revista faz na própria redação, em que constata a inexistência de negros . A Superinteressante, desde 2004, é 100% branca, ou seja, não existe um só negro na redação! Parabéns para a autocrítica! E você , já avaliou a cor da sua redação? (*) Maurício Pestana é publicitário e cartunista. Tem trabalhos publicados no Brasil e no exterior. É editor do site www.mauriciopestana.com.br. |
" Eu não acho mais graça nenhuma nesse ruído constante
que fazem as falas das pessoas falando, cochichando e reclamando, que eles querem mesmo é reclamar,
como uma risada na minha orelha, ou como uma abelha, ou qualquer outra coisa pentelha,
sobre as vidas alheias, ou como elas são feias,
ou como estão cheias de tanto esconderem segredos
que todo mundo já sabe, ou se não sabe desconfia.
Eu não vou mais ficar ouvindo distraido eles falarem deles e do que eles fariam se fosse com eles
e do que eles não fazem de jeito nenhum, como se interessasse a qualquer um.
Eles são: As pessoas. As pessoas todas, fora os mudos.
Se eles querem falar de mim, de nós, de nós dois,
falem longe da minha janela, por favor, se for para falar do meu amor.
Eu agora só escuto rádio, vitrola, gravador.
Campainha, telefone, secretária eletrônica eu não ouço nunca mais, pelo menos por enquanto.
Quem quiser papo comigo tem que calar a boca enquanto eu fecho o bico.
E estamos conversados."
(E estamos conversados - Arnaldo Antunes, Paulo Tatit)
Texto do cartão postal do IPAS Brasil e outras instituições não-governamentais:
Brasileiros (as) incluindo
católicos (as) fazem sexo por
prazer, usam camisinha,
apoiam a diversidade sexual,
não condenam mulheres
que abortam e querem o
Estado laico como garantia de
direito para todos (as).
Pesquisa de Opinião
IBOPE/CDD fev/05
86% dos católicos (as) defendem que as
decisões do legislativo e do judiciário devam
ser baseadas na diversidade de opiniões
e não em idéias religiosas
93% dos católicos acham que o serviço de
saúde deve atender as mulheres que tenham
problemas de saúde decorrentes de aborto
97% dos católicos (as) acham que o governo
deve promover o uso de preservativos
para combater a aids
86% dos católicos (as) são favoráveis ao uso
de contraceptivos
...mas a Bia me olha com ironia, questionando este já quase atávico mau humor, agravado pela gripe que me tirou hoje de circulação!
E carrega suas empadinhas, convicta de que tudo vai ser melhor!
Um beijo, Bia.