O caos fundiário no estado do Pará já tem um rosário de vítimas, se considerarmos apenas os assassinatos que foram “contabilizados” a partir de estatísticas organizadas pela CPT – Comissão Pastoral da Terra, nas últimas três décadas. Mas, antes disto, a terra paraense acolheu seringueiros e castanheiros mortos e nunca contabilizados, nos acertos de conta nos barracões de aviamento.
A “novidade” é que nos últimos trinta e sete anos, as instituições públicas chamaram para si a missão de ordenar a ocupação da terra. E o que conseguiram foi legalizar a desordem fundiária e propiciar que em determinadas regiões se sobreponham “títulos”, grilagens e ocupações efetivas que se plotadas no chão, transformam-se em edifícios de cinco andares.
O Governo Federal, sob cuja jurisdição está cerca de 70% das terras paraenses – somadas as que pertencem ao INCRA, IBAMA, FUNAI, as áreas de fronteira e áreas militares – no geral se “faz de morta”. Em 1997, por exemplo, o INCRA detinha cerca de um milhão de hectares de terra em estoque no Pará, consideradas as áreas arrecadadas e não destinadas, das quais a instituição não tinha a menor idéia se estavam ou não ocupadas e em que condições. No órgão terras estadual – ITERPA – a situação é a mesma.
Ao lado da já hoje dispersa atividade garimpeira, predatória por princípio, prevalece hoje a exploração madeireira, majoritariamente irresponsável e ilegal. A omissão do Estado, que não destina e disciplina áreas para a atividade e que não fiscaliza, transformou uma atividade econômica, que poderia ser importante fonte de trabalho e renda, em atividade criminosa, onde as ocorrências de trabalho desregulamentado e semi-escravo são flagrantes, isto pra não bater na velha tecla do desflorestamento.
E quando o Brasil que se acha o único, aquele que fica abaixo da linha do Equador, e que se “revolta” com a nossa ignomínia, irresponsabilidade, alto grau de corrupção e incompetência – sim, porque é assim que nos olham – nos perdemos entre a perplexidade e a revolta, sonhamos com o recuo para frente e nos albergamos sob o tapete de névoa verde chamado Amazônia, assumindo que somos os únicos responsáveis pela nossa vil tristeza.