“ (...) Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô(...)”
diz Adélia Prado num dos seus poemas
- Com licença poética –
e me deu vontade de pedir a ela licença poética
pra dizer que a minha tristeza tem pedigree,
porque é uma tristeza tecida em sonhos que eu pensava serem coletivos,
mas que eram mais meus do que dos outros.
A tristeza da perda pessoal
não durava muito tempo.
A vida cobrava reação e eu sempre a ouvia,
atenta e pronta pra cumprir minha sina,
de saber, como ela escreve, que
“mulher é desdobrável”.
Mas eu quero dizer que,
ao contrário dela,
não estou conseguindo aceitar
“os subterfúgios que me cabem”,
e que esta dor está quase com gosto de amargura
e que isso me assusta,
a mim, que nunca fui tolerante com as pessoas amargas ou ácidas,
e sempre me quis doce e suave,
sem que isso fosse indício de fraqueza ou de “fragilidade”.
E quanto a minha vontade de alegria,
eu concordo que a minha também ia “ ao meu mil avô”,
ou melhor, não sei se ao mil,
mas ao avô materno,
que tinha um jeito sarcástico de enfrentar dificuldades
e trazia a alegria impressa na retina.
Mas, concordo de novo com ela
“ o que sinto escrevo.”