A moça arruma seu patrimônio imaterial disfarçado em matéria.
Aqui eu também mudo.
Mudo com sofrimento porque é assim que deve ser.
Porque eu não quero mudar
e perco-me na mudança tentando achar o meu avesso.
Do lado de lá, há muitos quadros, muitos livros,
muitas histórias, muita música.
Do lado de cá, um quase nada que cabe em 8 caixas,
e em alguns escritos,
e em algumas fotografias,
e em algumas músicas que cantarolo de memória,
desde o tempo da Canção para a Unidade Latino-americana
até chegar a Jorge Palma.
Do lado de lá, apenas a casa ficará vazia.
Do lado de cá, preencho com sinos de vento
o vazio de estar trancada em minha “casa”,
uma casa sem teto, sem piso e sem paredes onde moro há tanto tempo,
e que não tem a graça ou a leveza da cantiga do Vinícius.
Mas bastaria eu unificar estas mudanças
e magicamente me transportar para lá,
aliviando, imaginariamente, o meu cansaço
podendo descansar minha cabeça
nos pés da moça,
imaginariamente massageados com cânfora.
E arnica.