" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

30
Mar 07

 

 

 

Foto: capturada  de Samartaime, aí ao lado.

 

 

A destinação de cotas para negros nas Universidades brasileiras, pelas reações que provoca, é a ponta do iceberg do racismo e da intolerância. Acesa a luz vermelha que atinge diretamente os privilégios das classes A e B, agora, literalmente,  toca-se fogo na casa.

 

Já escrevi sobre isto aqui e no site da Afropress. Há três anos discuto, onde quer que me chamem, em defesa das cotas. Para dizer, sempre, que as cotas são um direito, consolidado numa política de ação afirmativa, discriminando positivamente quem é discriminado secularmente, negativamente.

 

A hipócrita sociedade brasileira sempre aceitou como fatalidade ou dom divino as cotas negativas imputadas à população negra: são os pretos e os pardos os menos alfabetizados, os mais pobres e o maior percentual entre os indigentes. São milhões de brasileiros que silenciosamente, há séculos, pagam com seu suor e trabalho os privilégios das camadas que têm acesso aos "benefícios" da república, recebendo em troca  o gueto como possibilidade de futuro. O gueto moderno, configurado nas moradias das favelas e dos bairros mais desassistidos das periferias, nos postos de trabalho mais frágeis, desestruturados e mal remunerados e, evidentemente, nos presídios.

 

Observe-se que somente em 2001  - e e aqui, louve-se Fernando Henrique Cardoso - em Durban, que Governo brasileiro assumiu pela primeira vez o racismo existente na sociedade "cordial". Ainda assim, isto foi resultado das pressões do movimento negro e da imposição de acordos internacionais, pois no andar da nossa carruagem a Casa Grande e a Senzala ainda seriam mostradas ao mundo como conviventes e harmoniosas!

 

Pois bem, agora, a turminha da Casa Grande resolveu tocar fogo, literalmente, na discussão! E, quem sabe agora, felizmente sem vítimas fatais - ainda - o Governo assuma que a ampliação do debate e a defesa das cotas como compromisso no combate à desigualdade é direito e não beneplácito governamental que pode ser retirado quando meninos de famílias quase boas se aborrecem!.

 

 

 

 

PF tem provas de que incêndio na Unb foi criminoso


Os primeiros indícios apontam para racismo e xenofobismo e já há dois suspeitos -

 

Vannildo Mendes

 

BRASÍLIA - A Polícia Federal já tem provas de que foi criminoso o incêndio ateado em três apartamentos habitados por alunos africanos na Casa do Estudante Universitário (Ceu), da Universidade de Brasília (UnB), na madrugada da última quarta-feira. O reitor classificou a ação de "atentado".

Os primeiros indícios apontam para racismo e xenofobismo (preconceito contra estrangeiros) e já há dois suspeitos, provavelmente alunos brasileiros da mesma universidade, que foram vistos no local momentos antes do incêndio.

No momento em que as portas dos apartamentos foram incendiadas, havia dez estudantes africanos dormindo. Os criminosos colocaram tijolos em volta das portas para dificultar a fuga e esvaziaram extintores, numa evidência de que o crime foi premeditado.

A seguir, jogaram combustível nas portas e atearam fogo. Dos extintores e da garrafa plástica, encontrada parcialmente preservada do lado de fora do imóvel, foram recolhidas impressões digitais, que estão sendo analisadas pela perícia técnica da PF. Ninguém se feriu por sorte, mas houve muito pânico.

Os depoimentos de oito testemunhas e dos primeiros suspeitos serão tomados nesta sexta-feira. O crime chocou os meios políticos e a comunidade Universitária.

Providências

Uma comissão de representantes do Congresso, da Secretaria Especial de Política de Proteção Racial (Seppir) e de órgãos de combate ao racismo reuniu-se nesta quinta-feira com o reitor da UnB, Timothy Mulholland, para cobrar providências.

Estiveram presentes ao encontro o ex-reitor da UnB, senador Cristovam Buarque (PDT-DF) e o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Mulholland anunciou punição exemplar para os autores do crime, que serão expulsos se forem alunos e uma série de medidas para conter o xenofobismo e o racismo na instituição, pioneira na implantação de cotas raciais para negros em seus cursos. A UnB decretou o dia 28 de março como dia da igualdade racial para lembrar a data da agressão.

Mediante acordos internacionais, a UnB tem cerca de 400 estudantes estrangeiros, dos quais 23 vivem na Céu. Entre esses, 20 são oriundos de países africanos.

Provocações

Antes do incêndio, a comunidade africana já vinha sendo provocada com frases xenófobas pintadas nos muros da universidade, hostilidades e até brigas. As portas dos apartamentos incendiadas haviam sido pintadas com cruzes vermelhas e o símbolo da organização racista norte-americana Ku Klux Klan (KKK).

O reitor informou que tomou conhecimento de uma escaramuça entre brasileiros e africanos há seis mese,s mas não imaginou que a situação fosse chegar a esse ponto.

As principais testemunhas, Luis Melo Co e Adilton Fernandes Indi, ambos oriundos da Guiné-Bissau, moradores dos apartamentos 106 e 112, fizeram um relato dramático do atentado.

Na representação entregue à Seppir, à PF e ao Itamaraty e demais autoridades, eles dizem que os africanos residentes foram vítimas de violenta tentativa de homicídio e pedem "garantias mínimas" de vida ao Estado brasileiro. Relatam também que as hostilidades são antigas e relatam que, além das frases pichadas, desconhecidos haviam jogados pedras nos imóveis.

Um dos trechos da representação, à qual o Estado teve acesso, faz o seguinte relato:

Atearam fogo às portas dos nossos apartamentos covardemente enquanto dormíamos, não tivemos chance de defesa e por pouco uma tragédia de maiores proporções não aconteceu. Tivemos que saltar pela janela e chamar os seguranças para tentar controlar o fogo.

Nossas companheiras do apartamento 207 do segundo piso, que também foram alvo da violência injustificável, quase se lançaram pela janela. Curiosamente os extintores estavam todos esvaziados

http://estadao.com.br/ultimas/nacional/noticias/2007/mar/29/399.htm

Atualizando:

Polícia Federal já tem os nomes de três suspeitos
Por: Redação - Fonte: Afropress: Foto: Assessoria de Comunicação Social da UnB - 29/3/2007

Brasília - As Polícias Federal e Civil de Brasília já tem os nomes de três suspeitos do atentado praticado contra estudantes africanos da Universidade de Brasília (UnB), na madrugada de quarta-feira (28/03). Os três são estudantes da Universidade, vizinhos dos africanos na Casa do Estudante Universitário, no Bloco B, na Asa Norte.
Os nomes estão sendo mantidos, por enquanto, em sigilo para não atrapalhar as investigações e também porque é possível que haja outros envolvidos na gangue racista que atacou os africanos, enquanto dormiam.
Ontem, o estudante Adilson Fernandes Indi, da Guiné Bissau, contou a Afropress os momentos de pânico e terror que viveu com colegas, ao perceber que as portas dos apartamentos tinham sido incendiadas.
“Foi tudo espontâneo pra mim. Ninguém esperava. Estávamos dormindo, quando de repente ouvi a explosão. Eu acordei porque estava com sono leve. Vi chamas na porta toda e a fumaça invadiu a sala onde eu dormia”, contou.
Ele disse que a primeira providência foi chamar os colegas para dar o aviso de que tinham botado fogo nos apartamentos. “Eu pulei a janela, chamei o segurança. Foi uma coisa permitida e bem feita porque eles tinham desativado os extintores. Depois chegou a Polícia e os bombeiros”, acrescentou.
Indi e mais 16 colegas, da Guiné Bissau, da Nigéria e do Senegal estão alojados provisoriamente em um hotel da Asa Norte, cujo nome não foi revelado por razões de segurança. As despesas estão sendo bancadas pela Universidade, segundo garantiu o reitor Timothy Mullholand, mas eles não sabem até quando vão ficar.
Apesar de todos ainda estarem chocados com a violência, Indi, aluno do Curso de Sociologia, disse que ninguém pensa em desistir. “Agente tem um objetivo. Alguns estão em fase final. Só voltamos ao final do curso”, acrescentou. Ele disse que os colegas já tranqüilizaram os familiares nos seus países e agradeceu a solidariedade. “A solidariedade foi muito grande de colegas da Faculdade e dos movimentos estudantis negros. Nos deram grande apoio”.
Suspeitos
Os criminosos racistas que praticaram o atentado na Casa do Estudante Universitário são, muito provavelmente, vizinhos dos estudantes porque os dois seguranças que trabalham no prédio, não viram movimento de ninguém estranho.
As suspeitas recaem sobre um grupo de alunos que, em outras oportunidades, já havia hostilizado os africanos, com comentários racistas. A reitoria da UnB tinha conhecimento de que o grupo costumava fazer comentários de caráter racista e xenófobo contra a presença dos africanos na UnB e nos alojamentos da Casa do Estudante.

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 12:38

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