Um comentário meu, ontem, no blog Quinta Emenda (aí ao lado), no post Plano de Vôo, valeu-me um merecido puxão de orelhas de outro comentarista.
Respondi, o mais sinceramente que pude, mas eu não me convenci, embora Francisco Rocha Junior, o comentarista, tenha sido um cavalheiro. Parecia faltar alguma coisa que mesmo sem saber, eu intuía que não havia dito. E hoje, lá veio o bordão que aqui segue.
Não me convenci, porque meus argumentos estavam centrados apenas na minha experiência, e dela sempre quero fazer um manual de bom comportamento para os poderosos de plantão.
E, se me vanglorio de ter sido democrática na minha pífia e curta gestão como vereadora e vice-prefeita, e depois como gestora de um programa de governo, olho os resultados, ou aquilo que restou da minha interferência e sinto um nó imenso na garganta. Especialmente no que respeita aos mandatos eletivos.
Não, não há remorso. Não é esse o problema. Cada minuto dos 15 anos vividos lá, valeram o aprendizado, as dores e as alegrias de tê-los vivido, quer em situações adversas nos momentos de fúria dos adversários, quer na felicidade de termos avançado, ainda que pouco, frente aos muitos recuos.
Não saberia fazer nada diferente do que fiz. Mas sei hoje que poderia ter sido menos compassiva com a aparente fragilidade do outro – sintoma de arrogância - ou então ter sido menos presunçosa ao achar que eu ia à frente e, como o caminho era o da Luz, os outros seguiriam comigo. E assim foi, até o momento em que mudei subitamente o meu caminho e as pessoas que lá ficaram optaram por seguir por onde bem achavam que era melhor. E sobrevivem muito bem sem meu farol de milha.
Não sobrou muita coisa, daquilo que eram os “meus” desejos. À minha revelia, sou um nome de rua e de uma sala- biblioteca, e vez em quando – muito raramente - pairo no céu da cidade, como cadáver insepulto.
Como já purguei muito as dores da auto-crítica, preciso reafirmar, para uma completa explicação, o que descobri há dois anos: meu esquerdismo era uma embalagem exigida pelo momento histórico, pelo movimento que floresceria, independente da minha intervenção. Mas essa camisa de força me cabia mal, pois me faltava a consistência necessária para assumir a liderança, e ainda assim, eu a assumi.
Aqui residiu o erro principal. O que me movia – e me move até hoje – é a compaixão pelo sofrimento do outro e a consciência dos meus privilégios num país terrível como este, onde ao nascer já está definido se você será cidadão de primeira ou de segunda classe. Só isto me mobiliza. Apenas isto. Sem enfeites e sem teorias.
E compaixão cada um a exerce como quer, sem que isto lhe dê o direito de construir manuais de postura.
Desculpe, Francisco, mas faltava este pedaço.