" Se a esperança se apaga e a Babel começa, que tocha iluminará os caminhos na Terra?" (Garcia Lorca)

16
Jan 07

 No domingo,  no Estadão, o Professor Gaudêncio Torquato comenta no artigo Vida nova ao parlamento a disputa entre Arlindo Chinaglia e Aldo Rebelo pela presidência da Câmara Federal, e discute e propõe instrumentos capazes de transformar este arremedo de democracia que vivemos em um sistema efetivamente democrático, representativo e federativo.

 

Leio sempre suas análises, e aprendo sempre com elas,  mas, no meu entender, o professor cometeu desta vez um erro: aponta que "a sociedade brasileira" acompanha os meandros daquela disputa.

 

Quisera eu que assim fosse. Até sei que meia dúzia de três ou quatro acompanhamos, sim. Porém, a "sociedade brasileira" não somos nós, Professor.  Nem mesmo um surto de presunção me levaria a iludir-me com isto, embora compreenda o sentido que você quis dar à nossa esperança de , como uma pequena fração da sociedade, podermos representá-la.

 

A sociedade brasileira acompanha o Big Brother Brasil 7. E nos intervalos, desde sexta-feira, espera notícias sobre se há ou não sobreviventes do desabamento na cratera do metrô. Uns chamariam a isto de solidariedade. Eu tenho dúvidas. Não sei mais qual é o limite entre a solidariedade real e o sado-masoquismo implícito.

 

Os comentaristas dos noticiários de TV apresentam as informações sobre a tragédia e em seguida falam sobre o comportamento da Bolsa de São Paulo, face o feriado da bolsa de Nova Iorque, ontem. Sem mudar o tom de voz, nivelando e igualando as informações. Nem sequer ocorre um brake entre uma informação e outra.

 

Nesse imaginário brasileiro, entre o feriado na bolsa de Nova Iorque, a disputa entre "aliados" do governo, a morte de 7, 8 ou 10 pessoas na cratera, a irreponsabilidade pública e privada de desastres como este - ou como o da lama da mineradora em Minas Gerais - ou se um bigbrother  vai ou não transar ao vivo e em cores, é que transita nossa (des) esperança.

 

E a nossa (des) esperança se aperta nos trens do metro, nos ônibus superlotados, na disputa feroz pela manutenção de um posto de trabalho precário e mal remunerado. E quando chega em casa, muitas vezes já perdeu o Jornal Nacional (feliz ou infelizmente?), a novela já vai pela metade, mas ainda há inserções do show da vida dos brothers, para espiar antes de dormir. Daquela vida estúpida onde não cabe pensar ou discutir como é que se constrói um país, uma nação.

 

Que pena, Professor, que não representemos a sociedade brasileira. Sem ironia.

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 11:48

 

" A cratera e as Genis de sempre - Xico Sá

Envolvidas em milhares de casos de corrupção em obras públicas e acusadas de superfaturarem até poema concreto em SP, as empreiteiras responsáveis pela cratera do metrô já fizeram de tudo, nos últimos 20 anos, para serem banidas de licitações públicas no país. Praticaram todas as modalidades de abusos, foram denunciadas por dezenas de promotores e procuradores, mas sempre se safaram e continuam aí, na boa, habilitadas para novas concorrências. Também pudera, depois dos bancos são as grandes financiadoras –no paralelo e no oficial– das campanhas eleitorais. Genis políticas, elas dão pra todo mundo, PT, PSDB, PFL, PDT… quem estiver no jogo.

Cada uma dessas empreiteiras reinou em um determinado governo nas últimas décadas. Agora acabaram juntas, formando um cartel imbatível, para dividir o bolo sem intrigas e deduragens, prática comum na área. É difícil saber quem é a campeã de denúncias, mr. Google, só indo aos arquivos dos tribunais de todos os gêneros. De PC Farias para cá todas estiveram metidas em rolos faraônicos, com as devidas desculpas aos que ergueram as pirâmides.

Repare só nos batismos das construtoras e pense quantas vezes você não leu estes nomes pomposos de família bilionárias nos jornais: Odebrecht, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e OAS. A cratera é bronca pequena para estas enroladas e tradicionais senhoras que fizeram fortunas e hoje possuem negócios nos mais diversos segmentos. A culpa da tragédia, como bem sabemos, foi da chuva, do Raul Seixas, de São Pedro, do destino, menos delas. Isso é o que poderíamos chamar, evocando aquela técnica do teatro do velho Brecht, de distanciamento (ode)brechtiano, para não perder o trocadilho com a firma que lidera o tal consórcio. A realidade crua que se dane. "

(http://ponteaereasp.nominimo.com.br/)

 

 

 

publicado por Adelina Braglia às 11:45

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