Os resultados do Censo Escolar 2005, trazem uma indicação clara de que a juventude brasileira considera desimportante o estudo. A “análise oficial” no entanto justifica essa retração nas matrículas entre 2005 e 2004, com esta pérola de raciocínio:
“(...)A redução no Ensino Fundamental foi de 1,4%, concentrada no primeiro segmento (1ª a 4ª série). No Ensino Médio, a matrícula apresentou uma variação negativa de 1,5% em comparação com 2004. A queda na matrícula nas cinco séries iniciais do ensino fundamental (–1,6%) já era esperada, pois reflete tanto a melhoria do fluxo escolar – indicando que o sistema de ensino brasileiro vem diminuindo a retenção de alunos nas séries iniciais – quanto à transição demográfica em curso no país. (...)” (o grifo é meu)
O analista de plantão nem sequer se preocupou em justificar o crescimento significativo das matrículas no ensino profissionalizante (4,6%), o que confirmaria o desestímulo dos jovens para o ensino formal e derrubaria a ficção de raciocínio que a redução das matrículas no ensino formal se deveu apenas à melhoria no fluxo escolar ou à alteração nas taxas demográficas! Afinal, deve ser a "intuição" que leva o jovem a abandonar a possibilidade de adquirir conhecimento, substituindo-a pela tentativa de ter uma profissão! Entre Platão e o torno mecânico, certamente o futuro é mais garantido no torno!
Nenhuma palavra também sobre a enorme discrepância entre o total de matrículas no ensino fundamental (33 milhões) e o total de matrículas no ensino médio (9 milhões), o que sugere, como parâmetro, que menos de um terço dos que concluem o fundamental procuram ou têm acesso à complementação dos estudos! Ou, o analista justificaria isto, de novo, pelo movimento das taxas demográficas ou poderia usar a informação oficial de que a morte violenta entre jovens na faixa etária de 18 a 24 anos é hoje a maior causa mortis nesse segmento. Assim, estaríamos eliminando, literalmente, a concorrência por vagas no ensino médio!
Os resultados do Censo Escolar apontam que entre os que declararam sua cor no ato da matrícula no ensino fundamental e médio, os pretos e pardos são maioria na escola pública (48,9%), enquanto os brancos são maioria nas escolas privadas (51,1%). Aqui o analista não fez nenhum comentário. Afinal, deve parecer natural que os brancos procurem a escola particular, onde o ensino é, no geral, de melhor qualidade. Nenhuma palavra sobre a defesa da política de cotas para o ingresso dos jovens negros na universidade, que seria reforçada por estes números!
Tá. Fui eu que acordei aziaga. Talvez seja isso.