Nesta tarde de sábado percebo que sou o que me pertence.
São minhas “propriedades”: um computador,
as quatro caixas com livros e CDs que estão aqui na minha frente.
As oito caixas fechadas no andar de baixo,
resultado de outra mudança, e que não tive vontade de abrir.
Mas o que está guardado lá é meu.
Nas gavetas da mesa, uma máquina fotográfica funcionando e duas com defeito.
São meus os álbuns de fotografias dos filhos quando crianças
e outros com fotos minhas, dos amigos, dos irmãos.
E dois da Beatriz, quando bebê.
Tenho guardados dois panôs bonitos, mas nunca os pendurei na parede.
Tenho um matapi e duas maracas.
Duas caixas com objetos que guardei e que não sei mais o que me lembram!
Mas que não jogo fora, porque um dia, quem sabe,
eu me lembrarei do que esqueci.
E aí talvez faça sentido ter guardado por anos a fio,
uma delicada caixinha florida com um único brinco dentro, sem o seu par.
Além disso, o que é meu são duas gatas,
- ao menos penso que são minhas –
pois o aquário, acabo de dar à neta,
minhas são as roupas nos cabides e nas gavetas,
as bolsas penduradas nos ganchos
e os sapatos mal ajeitados nas prateleiras do armário do banheiro.
Duas bonecas negras, feitas de pano, e outra, menor,
- que Beatriz mantem como refém – também são minhas.
Assim como duas molduras com fotos bonitas.
As estantes. É nelas que apoio algumas pastas
que tenho enorme preguiça de arrumar.
A mesa de trabalho, e a outra, menor, que apóia a CPU, são minhas.
Afinal preciso de espaço para espalhar a minha desordem!
Ah! Um cesto de lixo em vime. Bonito, ovalado, que comprei não sei onde.
Não “tenho” filhos. São do mundo.
Eles vão e voltam quando querem e precisam.
Só precisam saber que podem sempre voltar.
Não tenho patrimônio algum: casa, carro, sítio ou fazenda.
Não me orgulho disto, mas não me sinto mal por não ter.
O resto é o que cabe na memória e na saudade.