Transcrevo e-mail mandado hoje a amigos e colaboradores:
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...a ponte e o rio...
... o trem...
.....e sua extensão.
A Cia. Vale do Rio Doce arranca do solo do Pará o ferro, a bauxita, o caulim. O trem imenso corta o Tocantins carregando o minério de ferro e deixando ao longo da estrada o som enervante do seu apito.
A empresa, arrogantemente, cospe no rosto dos paraenses a "fortuna" que deixa de impostos e considera extorsão a revindicação dos povos indígenas pela reparação que exigem por abrir suas terras à estrada de ferro.
A empresa transporta em alguns vagões o povo como gado. São os maranhenses que fogem da miséria do feudo dos Sarneys - pai e filhos - e vêm para o Pará, em busca de terra. trabalho e dignidade.
1984 de Orwell ou A hora dos ruminantes, de J. J. Veiga, são coisas de amador, perto do profissionalismo da Cia. Vale do Rio Amargo.
Há um céu que nos protege de males que nem presumimos.
Há um sol nas margens do rio, que aquece as águas e as almas.
Há força nesta brava gente, que nem sequer sabe que a tem.
Há uma dor no meu peito, eu, que penso que tanto sei.
Não me cobrem nada,
que à vista ou a prazo
nada quero comprometer.
O meu parco patrimônio
foi gasto em estradas, vielas.
cidades e vilarejos.
Como pagamento, vez ou outra
uma galinha ou um saco de macaxeira
e esse pagamento nem era esperado,
mas era sempre bem recebido.
O pagamento melhor sempre foi o riso aberto e o olhar iluminado.
Sim, é claro que ganho para trabalhar
e por isto, só por isto,
meto-me a poetizar a vida.
E não falava do patrimônio material,
que para este,
enquanto eu tiver saúde, pernas, ouvido e boca,
estou me lixando!
Não me cobrem a cota emocional que os equilibrados
sempre têm para dar. Dispenso os conselhos
mas aceitaria um colo disponível para acolher sem perguntas.
Hoje meus cabelos continuam despenteados,
o banho foi uma imposição das noções rígidas de higiene
e a cabeça dói como se dentro dela gemessem todas as dores do mundo.
Se puderem, dêem meu recado
aos que são sãos,
que copio do mais lúcido dos enlouquecidos:
"Ao vencedor, as batatas".
Neste momento, sob um sol de 34 graus, dois milhões de pessoas seguem a Virgem de Nazaré pelas ruas de Belém.
A fé transpira pelos poros, as ruas são lavadas pela esperança e pela gratidão.
É por isto que eu às vezes sonho que o Brasil ainda pode salvar-se. Não pelo milagre da Virgem, mas pela força dos brasileiros.
A minha maior amiga me diz que estamos em lados opostos nesta eleição e eu lhe respondi que estamos apenas em trincheiras diferentes. Parece estranho estarmos em trincheiras diferentes, nós que combatemos juntas sempre o mesmo combate.
Pelo carinho que eu lhe tenho, resolvi explicitar minha decisão serena e duradoura de não votar.
Alckmin é, sem dúvida, a expressão mais clara do neoliberalismo. Para ele, o choque de gestão possivelmente não significará redistribuição de riqueza e sim corte nas despesas, sejam elas quais forem.
Lula é a opção de um governo medíocre, em que pese o bolsa-família ter levado o frango para a mesa do miserável e eu não considero isto pouca coisa. Mas enquanto cresce o investimento nesse Programa (53% entre agosto e julho), descresceu o investimento em ações que poderiam efetivamente apontar para mudanças na estrutura, especialmente porque a política econômica do Governo Lula é exatamente a mesma dos governos FHC.
Porém, o Brasil cujo fosso regional foi ainda mais escavado a partir do Governo Collor, hoje aparenta ser cada vez mais fundo e a minha sensação é que jamais seremos uma nação. Minha amiga vive em São Paulo, eu vivo no Pará. Talvez, distante como ela está daqui, tenha perdido a referência do colonialismo brutal com que Brasília trata - e surpreendentemente de forma mais brutal no governo Lula - o norte do Brasil.
Aqui somos os incompetentes, os ladrões, os incapazes, os preguiçosos. E para nos "punir" disto, o presidente Lula vem a Belém em campanha, sobe no palanque com a mais nefasta figura da política paraense - Jader Barbalho - e beija-lhe a mão. Chama este palanque repleto de sátrapas - Paulo Rocha, do PT, deputado federal que renunciou para não ser cassado, Ademir Andrade, do PSB, processado pela Polícia Federal pelo roubalheira ne Cia. Docas do Pará e o sempre nefasto Jader Barbalho - de "aula de sociologia política".
Pensar assim é uma microvisão de mundo, eu concordo. Mas é neste micro mundo que há 30 anos voto reiteradamente no menos pior, incluindo Lula, em todas as eleições a que ele concorreu, à exceção daquela em que Mario Covas foi candidato contra Collor no primeiro turno. No segundo, votei em Lula.
Minha micro visão também priorizou a questão racial e a indígena, nos investimentos do atual Governo e Lula brincou como gente grande nestas questões. Destaque-se que também perpetuou a prática de mentir sobre os resultados da "reforma agrária". Aqui, as metas "fantásticas" alcançadas pelo INCRA devem-se somente à contabilização das famílias ocupantes de assentamentos já há 10, 7, 6, 15 anos e que agora foram beneficiadas pelos créditos fundiários e o INCRA, cinicamente - como já fazia no governo FHC - contabiliza-os como novos assentados.
A minha maior amiga e eu, lutamos e morremos um pouco para que se chegasse a um Brasil diferente deste. Eu não consegui e me restrinjo agora a exercer minha função de agente público, até quando aguentar ou puder. Ela parece ter ainda esperanças e, sinceramente, quero que ela esteja certa.
Meu carinho e minha torcida por ela nao me faz, porém, voltar atrás: nem Lula, nem Alckmin. Que o Brasil se salve sem mim.
E sempre do mesmo lado, aqui da minha trincheira, mando um beijo pra você, Rosa Maria.
Se vens comigo, aceita o meu percurso
com desprendimento, como aceito o teu.
Não me exija ir pelo teu caminho,
assim como não desejo que caminhes apenas pelo meu.
Se juntarmos o que acumulamos nas nossas isoladas trajetórias,
haverá um solidário caminho para percorrermos. Ou não.
Mas, junta ao teu riso a minha melancolia,
conta-me as tuas histórias, que eu tanto gosto de ouvir,
e tenta ouvir as que te quero contar.
Gastemos nosso tempo nisto,
porque não há mais pressa nesse caminhar.
Se juntarmos a tua forte e permanente determinação aos meus vacilos,
e se somarmos a minha eventual determinação às tuas inquietações,
quem sabe, haverá a serenidade,
que eu tanto quero e que nos é tão necessária.
E se o que nos atrai são as nossas diferenças,
mais do que as nossas similaridades,
não nos permitamos amalgamar a vida,
porque não és meu espelho, nem eu sou o teu.
Estamos nos olhando, apenas.
E, por enquanto, isto é forte, e basta.