A mãe me punha o vestido, as asas,
me encalcava a coroa na cabeça e encomendava:
"Canta alto, espevita as palavras bem."
Eu levantava vôo rua acima.
Um amigo, nascido em 7 de setembro, quando era criança pensava que a parada militar, os desfiles escolares, a banda, a alegria nas ruas, eram em sua homenagem. Frustrou-se quando entendeu que eram homenagens à independência do Brasil.
Ele é poeta. Hoje acordei pensando em telefonar e dizer-lhe que retome a sua ingênua compreensão da festa. E que me sinto melhor olhando a pátria como coadjuvante do seu aniversário do que assisti-la como cenário de tanta indignidade.
Vamos ao Vinícius:
No Brasil, milhares de pessoas permanecem presas, sem julgamento, alguns até com a provável pena já cumprida ou extinta. Outros, estão presos por engano.
A música que eu mandei,
pra comemorar setembro,
daqui, de onde o vento soprava,
- à barlavento, é verdade -
a Sotavento estranhou!!
Expliquei o que podia,
fiz enorme confusão,
bagunçando o sentido
da tristeza, da saudade,
da melancolia e da razão.
E agora, publicamente,
digo o que não lhe disse:
não sei, Sotavento querida,
se há tantas diferenças
entre a tristeza da ausência
e o vazio da presença
da paixão!
Apesar do colorido intenso da sua carga, os paneiros de açaí sempre me traziam uma aflição que eu não conseguia explicitar. Quando assisti O carteiro e o poeta, a definição "...redes tristes" me remeteu ao sentimento para o qual eu não encontrara definição: paneiros tristes.
Continuo me incomodando com esta tristeza que paira sobre frutos tão coloridos. Paneiros tristes, acumulando sobre o tom violeta dos frutos o suor de quem os carrega para o porto, para a rua, para o porto, para rua, num moto contínuo de cansaço e desesperança.
" Com a proximidade das eleições, a corrida para ampliar o número de beneficiados pelo Bolsa Família está em ritmo acelerado. Os pagamentos destinados às "transferências de renda com condicionalidades" cresceram 56% em apenas um mês. O salto foi de R$ 632,4 milhões em junho para R$ 990,6 em julho deste ano. O valor gasto em julho foi 73% maior que a média orçamentária do programa nos últimos seis meses, que ficou em torno de R$ 573,6 milhões."
http://contasabertas.uol.com.br/noticias/detalhes_noticias.asp?auto=1486
A classe média uiva. A mesma que há anos e anos fecha as janelas do carro frente a aproximação dos meninos de rua, agora se sente traída! Cínica e tola, como sempre. O operário chegou ao poder e não a levou ao céu!
O populacho tem, efetivamente, um quilo de carne à mesa, com o Programa Bolsa Família e garante a Lula, na largada, 40 milhões de votos!
O país onde a concentração de renda é a mais cruel do mundo assiste a eleição da vingança da miséria contra a elite burra.
A ética é o tema da propaganda televisiva: os situacionistas defendem-se das suas falcatruas lembrando que a corrupção é atávica nos governos que os antecederam. Os oposicionistas esquecem-se que a inventaram, cevaram e sofisticaram.
Lula no poder não foi o começo de outro caminho. É o mesmo caminho, com um guia perdido entre sua história e a história real do poder. Entre a carne na mesa do pobre e os maiores lucros do setor financeiro na última década!
Meu não-voto se firma cada vez mais. O que está em torno do meu umbigo é suficiente pros dias que me restam. Descomprometo-me com a salvação da pátria! Minha trincheira hoje é restrita. E beijo os que permanecem na luta.